domingo, julho 24, 2011

Piratas da Somália serão heróis?
Heróis ocidentais serão piratas?

Se os piratas somalis (ou similares) são um bando de criminosos que urge erradicar, o que se dirá dos piratas ocidentais (sobretudo dos EUA, França e Espanha) que, por exemplo, roubam à grande a à francesa as riquezas, sobretudo marítimas,  deste pobre "país" africano?

Mas será que alguém está mesmo interessado em acabar com esta actividade na região do Corno de África? Não. Ninguém está interessado. Quanto pior… melhor, para os abutres ocidentais que actuam impunemente na região.

Desde o início da guerra civil, nos anos 90, patrocinado pelos donos do mundo, que os somalis sequestram navios e pedem resgates. A situação levou, inclusive, à criação da Task Force 150, na qual participam Canadá, EUA, Alemanha, França, Grã Bretanha, Portugal e Turquia entre outros.

Será a ideia acabar com a pirataria? É essa ideia, não que vise defender os somalis mas, apenas isso, garantir a segurança dos piratas ocidentais que lá vão sacar tudo quanto for de valor.

De facto, ninguém está interessado em ir ao fundo do problema, desde logo por se tratar de África e de um local, a Somália, do qual os donos do mundo (os EUA) não guardam boas recordações.

A Somália desapareceu em 1991 enquanto esboço de um país que nasceu de um parto prematuro em 1960, como resultado do casamento de conveniência entre dois protectorados (um italiano e outro britânico).

Com o fim da União Soviética, exactamente em 1991, acabaram muitos países e outros mudaram de rumo, sendo a Somália o exemplo mais antigo de uma terra de ninguém.

Acabada a divisão ideológica do mundo, com a rendição da supostamente toda poderosa URSS, muitos foram os países africanos que ficaram à deriva.

Os somalis, por exemplo, quando chegaram ao meio da ponte que atravessa o rio da vida, pararam para procurar uma razão para que 75% deles vivam na mais catastrófica miséria. Foi então que, perante a indiferença habitual, repararam que nem ponte havia...

Apesar de ser um dos países mais pobres do mundo, não falta quem para lá mande toneladas de caixotes de ajuda alimentar cheios de armas. Alguém está interessado nisso.

Tudo isto entronca na exportação para África de processos democráticos do estilo “Nescafé”, em que basta “juntar água e mexer”.

O problema está que, por obra e graça de muitos ditadores africanos e de uns tantos autocratas ocidentais, esse é um método que é comum quando se trata de chegar ao poder.

Tanto a Europa como os EUA pensam que os processos democráticos que exportam para África, não para criar democracias sérias e estados de direito mas, antes, para criar e manter  ditadores corruptos, são algo em que se mistura o pó com água e dá uma democracia.

Em todos os países em que se votou apenas para calar a comunidade internacional, apenas para legitimar os poderes existentes, os conflitos estão e estarão latentes, bastando um fósforo para pôr as Kalashnikov a dizerem de sua justiça.

Recordam-se que, em Janeiro de 2007, o exército norte-americano lançou um ataque aéreo no sul da Somália contra os islamitas só porque o senhor George W. Bush e afins suspeitavam ter ligações à Al-Qaida?

No caso, segundo o então presidente dos EUA, para ser suspeito bastava ser preto e não apoiar o Governo que Bush escolhera  para a Somália. Se são civis inofensivos e inocentes... isso pouco interessava… e pouco interessa.

E assim se fazia e continua a fazer uma parte da História no Corno de África. Na altura a Etiópia invadiu a Somália com mais de 10 mil soldados, blindados e aviões e o mundo ou ficou calado ou aplaudiu. Eram os “bons” que enfrentavam os “maus”.

E quem são os “bons” e os “maus”? É simples. “Bons” são os amigos dos EUA e da Europa. Todos os outros são os “maus”.

É só escolher...

3 comentários:

Manuela Araújo disse...

Caro Orlando

Como muito bem aqui escreve e denuncia, o mundo está a saque. Os países ricos roubam e exploram os países pobres, as grandes multinacionais, sob a capa de levarem o progresso e sob a protecção de governos comprometidos até ao tutano com os interesses económicos.

Uma pirataria de grande escala, mas só vêem os pequenos piratas... tal como só vêem o mosquito pousado no elefante, mas não vislumbram seque o elefante...

Quem são os verdadeiros piratas? Também pergunto... mas acho que sei a resposta...

Se não fossem, primeiros os piratas europeus e depois os dos outros continentes, talvez África fosse hoje um continente muito melhor para se viver... e o mundo também!

Fada do bosque disse...

Olha a maninha! :)) vim aqui para dizer que estamos em plena Guerra Mundial, mas os ocidentais como estão adormecidos e alienados ainda não se aperceberam muito bem. Como gosto muito de política internacional, digo a plenos pulmões que começou há um bom tempinho a terceira guerra, mas a maioria diz que eu estou louca... A mana diz que o mundo está a saque, eu digo que sim e que isso é uma das consequência da guerra. Ora eis que encontro aqui este artigo, que vem directamente à ideia que tenho. Agora noto que começam a acordar do torpor, mas que quando derem por isso, não será só a África a ser dizimada pela fome e violência... está a chegar a casa dos ocidentais alienados... e à nossa também!
Um abraço, Orlando.

Força aí a acordar os zombies com a verdade!

Fada do bosque disse...

Só um pequeno trecho do artigo no meu comentário acima e que diz tudo:

«Ce qui à travers le filtre dont je viens de faire état est très mal perçu par le citoyen occidental lambda, qui considère presque légitime - au sens légal - de nier toute responsabilité et d’affirmer en bonne conscience qu’il n’a pas à assumer la misère du monde et que ces gens n’ont qu’à se débrouiller autrement et résoudre leurs propres problèmes. La distance dont je fais état est donc non seulement géographique mais elle est aussi sur le plan de la conscience. Les causes dont sont directement responsables les instigateurs de ces guerres, représentants élus au suffrage universel par le peuple je le rappelle, ne sont donc de fait pas imputables aux citoyens européens. La fracture démocratique est indiscutable car elle a atteint le domaine de la conscience. En fait la situation perdure car la majorité ne sait pas ce qui se passe réellement. Ils ne sont conscients que de ce qu’ils regardent au JT ou lisent dans la presse traditionnelle, aujourd’hui détenue par des intérêts privés dont des fabricants d’armes ou de béton.»