O Governo português vai pagar em antecipação cerca de 225 milhões de euros da dívida da RTP em 2012. Muito bem. Tudo na santa paz de… qualquer coisa.
De acordo com o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, a RTP Internacional deve ser a "grande aposta" da empresa. Quanto aos Açores e à Madeira, custam custam ao Estado 24 milhões de euros por ano.
Miguel Relvas declarou na Comissão de Ética, Cidadania e Comunicação que se reuniu ontem com os presidentes da RTP e da Lusa, a quem pediu um "plano de potenciação de sinergias" entre as empresas, nomeadamente por via da "partilha de instalações e meios" no estrangeiro, como já sucede nalgumas delegações.
A privatização de canais de rádio e televisão da RTP e a alienação da participação do Estado na agência de notícias Lusa são medidas previstas no programa do actual Governo. A concretizarem-se será o fim mas, é claro, terão direito a um epitáfio do tipo: “A bem da Nação”.
"Devemos ou não ter a responsabilidade de iniciar a reestruturação da empresa? Eu não tenho dúvidas nenhumas", declarou o ministro aos deputados, frisando que não se deve estar "agarrado a visões do passado".
Nem mais. Do passado só se vão ter as visões, essas sempre repetidas, de mais despedimentos, de mais empregos para a rapaziada do partido.
"Queremos que a RTP Internacional seja a TV Portugal", disse o ministro. E disse muito bem.
Se calhar, embora me pareça que – como no passado recente – é chover no molhado, importa recordar que o então presidente brasileiro lançou no dia 24 de Maio de 2010 a TV Brasil Internacional, que chegará a 49 países africanos, entre eles todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa): Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Pois é. E Portugal (como sempre e apesar de ter mudado de governo) fica a vê-los passar na esperança, vã, de apanhar uma boleia.
"Nós queremos provar que é possível fazer uma televisão pública de qualidade, republicana, que não seja chapa branca, mas que também não seja oposição à priori, que tenha discernimento de fazer análises políticas correctas, de contar os factos como eles são. Nós queremos uma televisão pública que possa mostrar o Brasil lá fora como ele é", afirmou o presidente brasileiro, Lula da Silva durante a cerimónia no Palácio do Itamaraty.
Como se isso não bastasse (e quem tiver dúvidas olhe para o que Portugal faz), Lula da Silva garantiu que quando os africanos assistirem a parte da programação da TV Brasil Internacional, vão pensar que é televisão africana, tal é a similaridade de comportamentos entre os povos.
Depois de ter dado luz ao mundo, Portugal ficou às escuras e nem os fósforos encontra. Escuras em todos os domínios, menos no da propaganda estéril.
Para o então presidente brasileiro, a chegada a África da TV brasileira, que tem "exímia qualidade", resgata um pouco a dívida histórica com os africanos, "que não pode ser mensurada em dinheiro, mas deve ser quitada com solidariedade e parcerias".
Que bela lição. Enquanto os donos de Portugal dizem “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos” (ou seja, nada), o Brasil pura e simplesmente limita-se a dizer olhem e vejam não o que prometemos mas, isso sim, o que fazemos.
O início das emissões da TV Brasil Internacional foi aliás marcado por uma declaração do presidente de Moçambique, Armando Guebuza, que considera o novo canal uma forma de enriquecer a comunicação social em África.
Nesta, como em quase todas as matérias, o Brasil está sempre na liderança e tem apostado sempre nos cavalos certos. Quanto a Portugal não consegue ver que aposta não nos cavalos mas em burros que, ainda por cima, são coxos. Têm, contudo, a vantagem de terem cartão do partido.
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