O Governo português afirmou hoje que os últimos desenvolvimentos na Líbia, onde as forças rebeldes já ocupam grande parte de Tripoli, aproximam "de forma decisiva o povo líbio do culminar da sua luta em prol da liberdade e da democracia".
Não está mal. Em pouco tempo, Muammar Kadhafi passou de bestial (ou “líder carismático”, segundo José Sócrates) a besta. Para tanto bastou a decisão da NATO que levou décadas a descobrir que, afinal, o líder líbio era um terrorista mau (sei, que também os há bons).
Pelos vistos também o Ministério de Paulo Portas acredita que agora tudo serão rosas sem espinhos e que, por um qualquer milagre, a Líbia vai passar a ter liberdade e democracia.
Numa nota enviada à Agência Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros refere que, "apesar de no terreno a situação não se encontrar ainda definitivamente clarificada, é manifesto que o regime ditatorial do coronel Muammar Kadhafi está a viver os seus últimos momentos".
"A sua saída do poder é, por isso, a única consequência lógica e necessária e devia ocorrer por sua própria iniciativa, na medida em que a prioridade é evitar o sofrimento da população civil", lê-se na nota.
Do ponto de vista do Governo português, cuja cartilha elenca os terroristas bons e os maus, a mesma nota vai ficar em cima da mesa de Paulo Portas para que, apenas mudando o nome do protagonista, seja utilizada noutros casos, eventualmente (embora pouco provável) para a Síria e Bashar al-Assad.
De acordo com o MNE, os acontecimentos na Líbia "vêm ainda dar mais sustentação à decisão do Governo português, tomada no passado dia 22 de Julho, no sentido do reconhecimento do Conselho Nacional de Transição (CNT) como autoridade governativa legítima da Líbia até à formação de uma autoridade transitória".
É evidente que na mesma cartilha se diz que Portugal também está proibido de dizer que o apoio militar da coligação internacional aos rebeldes líbios foi e é uma "ingerência" nos assuntos internos da Líbia.
Se todo o mundo sabia há décadas que Muammar Kadhafi não era flor que se cheirasse, presumo que Portugal também soubesse.
Mas o cheiro, o mesmo cheiro que já tem décadas, nunca incomodou os donos do mundo, tal como não incomoda que o presidente de Angola, esteja há 32 anos no poder sem ter sido eleito e tenha 70 por cento da população na pobreza.
De facto, tratou-se de uma ingerência da coligação internacional numa guerra que, no fundo, era interna, civil, e que não foi sancionada pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que previa, isso sim, o recurso à força para proteger os civis contra a repressão do regime do coronel Muammar Kadhafi.
A missão seria, supostamente, para proteger civis e não para ajudar civis a derrotar militarmente o ditador. É claro que, todos sabem, civis com armas ao lado de Kadhafi são hoje terroristas, civis com armas do outro lado são hoje heróis.
E se todos estarão de acordo em defender a população civil, são poucos os que se atrevem a dizer que há uma diferença sensível entre ataques aéreos contra os meios de defesa anti-aéreos líbios e contra colunas de tropas fiéis ao dirigente da Líbia.
Ao que parece, salvaguarda-se qualquer eventual falha da tradução ao abrigo do acordo ortográfico, a resolução 1973 não estabelecia que deveria ser a NATO a depor Kadhafi, como de facto aconteceu, mesmo que a coligação atire a pedra e esconda a mão.
1 comentário:
Olá Orlando, bom dia!
Já viu esta notícia? junte isto ao "Patriot Act" e temos o caldinho para a ditadura mundial, com os portugueses já na linha da frente!!
Este governo vendeu os cidadãos aos neocons! Sabe que nos EUA existe prisão perpétua e pena de morte! Agora ficamos debaixo de fogo destes terroristas! Estamos tramados. Leia a notícia e as relacionadas nesta página:
http://esquerda.net/artigo/dados-biom%C3%A9tricos-psd-ratifica-acordo-com-eua-que-viola-lei-nacional-e-europeia
Em PDF http://www.cnpd.pt/bin/decisoes/par/40_10_2011.pdf
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