sexta-feira, agosto 26, 2011

Cabinda segundo Joffre Justino


“Há, em Cabinda, na verdade, a necessidade de se clarificar o que pretende realmente o Povo de Cabinda – se a Independência, se uma Autonomia, que passe pela criação de um Estado do tipo Federal, ou pela criação de Regiões Autónomas como sucede entre Portugal e as Ilhas”.

Em 6 de Julho de 2006, Joffre Justino escrevia que “Nzita Tiago, Presidente da FLEC, declarou recentemente que desconhecia quaisquer negociações entre o Fórum de Cabinda para o Diálogo e o Governo de Angola, recordando que António Bento Bembe não se encontrava mandatado para desenvolver quaisquer negociações que representasse a FLEC, organização que dirige”.

«Para ser sincero, eu (e qualquer analista), entendo que a situação de Cabinda necessita de solução urgente. A Espanha está a resolver a questão com o País Basco e a ETA, a Irlanda resolveu o problema com o IRA, e a solução passou, sempre, pelo diálogo, pela negociação, sendo que, em ambos os casos, o mesmo aconteceu sem perca de posições de todas as partes”, afirmava Joffre Justino, acrescentando que “por isso mesmo a solução não passou pela sustentação de uma atitude laxista”.

Para Joffre Justino, “exemplo do erro que são as soluções laxistas está no processo de Descolonização português e na sequência de guerras civis e instabilidades em todos os países de expressão portuguesa nascidos com o 25 de Abril”.

“Compete, sem dúvida, ao Governo de Angola, manter a estabilidade no interior das suas fronteiras. Essa competência nada tem a ver, como se pode aprender com a Irlanda e com a Espanha, com a sustentação de um diálogo que encaminhe as partes para soluções não violentas”, afirmava Joffre Justino, para quem “há, em Cabinda, na verdade, a necessidade de se clarificar o que pretende realmente o Povo de Cabinda – se a Independência, se uma Autonomia, que passe pela criação de um Estado do tipo Federal, ou pela criação de Regiões Autónomas como sucede entre Portugal e as Ilhas”.

“Essa necessidade, segundo Joffre Justino, exige que o Povo de Cabinda tenha direito à palavra, directamente, e não por interposta pessoa das organizações que assumem a sua representação”, explicando que “esse direito à palavra, em Democracia, chama-se Referendo”.

Joffre Justino  alerta que “não é bom que as partes se iludam umas às outras, gerando “negociações” que não o são, porque afastam componentes desses mesmos representantes, o anulando negociações que podem sê-lo, retirando representatividades a quem pode tê-la, só porque “deixaram de agradar”».

«Como muitos sabem, nunca defendi a Independência de Cabinda”, diz Joffre Justino, explicando que, «em primeiro lugar, porque entendo que os Estados minúsculos, hoje sobretudo, só servem interesses não nacionais. Em segundo lugar, porque são evidentes os interesses de certas petrolíferas na fragilização daquela parte de África. Em terceiro lugar, porque ainda não se ouviu o mais interessado neste processo - o Cabindês».

«Como, pelo que eu pude estudar, Cabinda até foi uma das componentes que deu origem ao nascimento de Angola, a questão da Independência de Cabinda nunca foi, para mim, uma questão de decisão clara e adequada. É claro que já é bem claro para mim que Cabinda se revoltou e se revolta perante o ostracismo em que foi mantida, tendo em conta a riqueza que gera para toda Angola, e tendo em conta a posição explicita dos Católicos de Cabinda contra o regime comunista em Angola e depois contra o autoritarismo», escrevia Joffre Justino, acrescentando que «é também certo que vivemos, no que respeita a Cabinda, um momento difícil onde, inclusivamente, uma parte da Igreja Católica se mostra contra uma sua outra parte, até dado o radicalismo inerente a uma guerra civil que se prolonga».

«Neste contexto é pois necessário que predomine sobretudo o bom senso», opinava Joffre Justino, dizendo que isso «é o que por vezes tem faltado, ainda que no geral se tenha de entender que em um processo como este não se possa perder a noção de autoridade.»

«Em particular tendo em conta a noção que nos é transmitida pela potência das potências – os EUA – que volta a considerar Angola como região de risco forte de relacionamento com o terrorismo internacional. Diria que por detrás deste volte face está mesmo a relação preferencial de Angola com a República Popular da China, pois não se vislumbra qualquer alteração em Angola, a não ser esta», considerava Joffre Justino.

Da análise feita então por Joffre Justino, ressalta que “de novo surgem misturadas razões ditas políticas com razões de interesse económico explícito, o que não é, de forma alguma adequado, nem para as razões políticas, nem para as razões de interesse económico».

«No entanto, goste-se ou não, os EUA estão a mudar de posição, mais uma vez, no que diz respeito a Angola. E ao mudarem de posição, preparam-se, certamente, para tomar outras posições no cenário angolano, que podem passar por um apoio, directo ou indirecto, explícito ou não,  às Oposições Angolanas, FLEC incluída», perspectivava Joffre Justino, considerando que «perante tal, o Governo de Angola terá de analisar mais cuidadosamente do que faz, a metodologia e os objectivos que entendeu assumir para o caso Cabinda/FLEC/Igreja Católica».

«O que não impede de ser importante que todas as partes assumam o mais urgentemente possível, uma posição negocial, tal como fez o IRA, tal como fez a ETA. A bem de Cabinda, a bem de Angola, a bem da região envolvida», concluía Joffre Justino.

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