Em muitos casos não é por vontade própria. Mas a verdade é que, por ordem dos donos dos jornalistas (e dos donos dos donos) Cabinda continua a ser um assunto proibido em muitos dos órgãos de comunicação social portugueses.
Nesta matéria existe, aliás, um largo mas nem por isso menos criminoso, consenso entre os sucessivos governos e os diferentes presidentes da República.
Enquanto Cavaco Silva faz questão de dizer que Angola se estende de Cabinda ao Cunene, o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação do governo socialista de José Sócrates, João Gomes Cravinho, dizia que "Portugal não tem nada a ver com a questão de Cabinda que é um assunto de soberania angolana".
O mesmo dirá, pelo menos à boca pequena, o actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, com a inerente cobertura do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
Não admira, por isso, que muita da Imprensa lusa seja apenas correia de transmissão da verdade oficial que, ainda por cima, revela um consenso entre os principais donos políticos do país.
Por alguma razão D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas portuguesas, lamentava que a comunicação social portuguesa e internacional continuasse sem dar a devida atenção ao que se passa em Cabinda.
O bispo passa assim, não só com legitimidade factual mas também com uma verticalidade rara, um atestado de menoridade a muitos dos supostos jornalistas portugueses.
Aliás, até porque muitos verdadeiros padres são vítimas do regime angolano que ocupa Cabinda, permitam-me que cite o bispo de Viseu que dizia com todas as letras, no dia 19 de Maio de 2009, que "há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não ao serviço da verdade, da informação, daquilo que é importante”.
D. Ilídio Leandro acrescentava ainda: “Eu compreendo que os jornalistas precisam de ter caminhos de vida, mas quando isso vem como deformador das notícias é mau".
No campo político a passividade também é plena, para além de atávica. Só Manuel Monteiro teve a coragem de dizer em relação a Cabinda que “no plano das relações internacionais reina o primado do cinismo” e que “as considerações de justo ou injusto dependem das épocas, das circunstâncias e até dos interesses materiais”.
Registe-se também a posição do Movimento Internacional Lusófono, MIL, que defende que “sejam, o mais brevemente possível, encetadas negociações, sob a égide da CPLP, de modo a garantir uma maior autonomia de Cabinda – seguindo, por exemplo, o modelo de autonomia regional que Portugal concedeu aos Açores e à Madeira, ou o que o Arquipélago de São Tomé e Príncipe concedeu à Ilha do Príncipe”, e que “o resultado dessas negociações seja depois ratificado por todo o povo de Cabinda em referendo”.
No que ao Alta Hama respeita, a força da razão estará sempre acima da razão da força. Mesmo quando se multiplicam avisos e ameaças para que deixe de falar de Cabinda. Como o meu compromisso sagrado é apenas com o que penso ser a verdade, a luta continua.
Talvez de derrota em derrota… até à vitória final.
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