terça-feira, agosto 16, 2011

Quando os jornalistas pensam, o mundo pula
e avança como bola nas mãos de uma criança!


Quando fez a apresentação do meu livro “Cabinda – ontem protectorado, hoje colónia, amanhã Nação”, o Jornalista Carlos Narciso questionou e explicou muitas coisas.

Tendo igualmente como protagonista o dono de Angola, o Jornalista Joaquim Vieira diz: “(…) ainda estou à espera de ver na imprensa portuguesa uma referência a este caso”.

Conta Joaquim Vieira que o último número da revista "The Economist" revela um impressionante esquema de expropriação das riquezas minerais de Angola e de outros países africanos através da Sonangol e da sua associação a entidades chinesas por intermédio de uma empresa sediada em Hong Kong que fornece à China grande parte do petróleo que este país consome.

A revista afirma, conta Joaquim Vieira,  que "milhares de milhões de dólares destinados [pelos contratos entre a associada chinesa da Sonangol e governos africanos, incluindo o de Angola] a escolas, estradas e hospitais acabaram aparentemente em contas bancárias privadas".

Em troca do petróleo angolano, por exemplo, essa empresa comprometia-se a construir em Angola redes de água canalizada, entre muitas outras infra-estruturas, mas ao fim de seis anos 90 por cento da população de Luanda ainda não tem uma torneira em casa.

Escreve Joaquim Vieira, citando a "The Economist": “Há familiares do presidente angolano com interesses no grupo Sonangol e as receitas dos contratos da associada da Sonangol vão para uma agência controlada exclusivamente por José Eduardo dos Santos.”

Acrescenta: a Sonangol é, "apenas", o maior accionista do maior banco privado português, o BCP/Millennium, e conclui: “ainda estou à espera de ver na imprensa portuguesa uma referência a este caso”.

Joaquim Vieira sabe que vai esperar sentado. Mas, é claro, isso não o impede de continuar a esperar…

 “O que o bom jornalismo exige é a procura, em consciência, da Verdade, mais do que a simples exposição de factos ou afirmações. Fazer jornalismo é, ainda, descodificar argumentos para uma linguagem acessível a todos os que quiserem compreender o drama que se relata na prosa jornalística…”, afirmou Carlos Narciso na apresentação do livro.

Depois de considerar que o livro “é uma pedrada no charco”, não por conter revelações assombrosas, “mas por se atrever a falar de um assunto silenciado e que incomoda os sistemas em vigor: o sistema político instaurado em Angola e o sistema capitalista sustentado globalmente pela exploração e acumulação de riqueza.”

Por fim, Carlos Narciso afirmou que “hoje vivemos em sociedades proto-fascistas, no sentido em que só os poderosos é que têm direito a sobreviver”, explicando que quem está fora do arco do poder, se consegue fazer ouvir.

“Não me refiro a conversas de café, onde cada um fala mais ou menos alto aquilo que entende… refiro-me ao eco que opiniões divergentes têm nos grandes órgãos de comunicação social nacionais, as televisões, por exemplo… Aqui ou em Angola?... em Cabinda é quase um silêncio total, entrecortado talvez pelos gemidos dos agrilhoados… e em Portugal, enfim…”, disse Carlos Narciso, perguntando: “onde é que um ponto de vista que não seja do pensamento dominante se consegue fazer ouvir? Qual é o jornal nacional, a rádio ou a televisão que acolhe opiniões incómodas e as questiona? As difunde? As confronta?”

“Qual deles é que está aqui para ouvir ideias que confrontam o Poder estabelecido em Angola, um Poder que compra com petróleo silêncios e compromissos por todo o Mundo? É neste quadro que temos de entender o silêncio mediático que envolve a questão de Cabinda”, acrescentou Carlos Narciso.

O Carlos, o Joaquim, eu e mais alguns (poucos, é certo) continuamos sentados à espera que um dia se faça... Jornalismo.

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