Há quem acredite que as autoridades angolanas (leia-se Eduardo dos Santos) devem explicar a prisão de um jornalista por ter informado (como é seu dever) sobre uma onda nacional de desmaios em massa.
Mas, obviamente, entendem mal. Seria assim se Angola fosse um Estado de Direito. Como não é, os jornalistas têm de comer e calar se quiserem evitar dar com os costados na choldra. É assim no reino do MPLA mas, diga-se, também é regra por esse mundo fora.
Também há quem defenda que o governo angolano deveria preocupar-se com a mensagem e não – como aconteceu ontem, acontece hoje e acontecerá amanhã – com o mensageiro. Deveria, mas de facto é mais simples calar, ou tentar calar, todos aqueles que têm um compromisso sagrado com o que pensam ser a verdade.
O jornalista Adão Tiago apenas quis ser isso mesmo, jornalista. Mas, em Angola como em Portugal, essa peregrina ideia de ter coluna vertebral e pensar com a própria cabeça é mais de meio caminho andado para a prisão, para o desemprego, para chocar com uma bala.
Sabe-se que, desde Abril, mais de 800 pessoas, a maioria estudantes adolescentes, desmaiaram depois de se queixarem de dor de garganta e nos olhos, falta de ar e tosse. E então, do ponto de vista das autoridades, qual é, neste e noutros casos, a melhor solução?
A solução é não falar do assunto. E se assim é, porque carga de chuva os jornalistas preferem falar do assunto, violando as mais elementares regras da segurança do Estado?
Adão Tiago, repórter da Rádio Ecclesia, foi detido na capital do reino, Luanda, pela divulgação em 29 de Julho do desmaio de 20 estudantes.
Neste como noutros casos, mandam as regras “democráticas” do regime, que até prova em contrário todos são… culpados. Foi o que aconteceu a Adão Tiago, também professor.
Como também é regra das autoridades, muitas das quais têm de se descalçar para contar até doze, só existe o que é conhecido. Se os desmaios não fossem conhecidos e divulgados por esses criminosos dos jornalistas, não existiriam e tudo estaria na santa paz do representante de Deus em Angola, de seu nome José Eduardo dos Santos.
E neste contexto, aparecem sempre os súbditos de sua majestade prontos para, curvando-se perante a divina figura do grande líder, fazer tudo o que ele manda.
Foi o caso de Rui Pires, médico que trabalha para o Ministério da Saúde, que culpou a “histeria colectiva” e a cobertura sensacionalista da imprensa pelos desmaios. Ou seja, os jornalistas são, obrigatoriamente, responsáveis pelos desmaios.
E se assim é... prisão com eles!
1 comentário:
Seria bom que o governo fizesse uma avaliação dos sistemas de esgotos de escolas e edifícios públicos pois é bem possível que exista decomposição anaeróbia dos dejectos existentes nesse esgotos que estão há anos entupidos. O gás assim formado é uma mistura de metano e dióxido de carbono e ainda conterá ácido sulfídrico. A inalação desta mistura poderá levar a desfalecimentos e desmaios e o ácido sulfídrico ainda é irritante para as mucosas nasais e para os olhos.
Julgo pois que toda esta vaga de desmaios é consequência da incapacidade dos dirigentes e governantes em colocara funcionar devidamente os sistemas de saneamento.
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