Angolanos têm cada vez mais poder em Portugal? Falso. Banca, energia, comunicações e até media são os negócios onde o capital angolano ganha peso? Falso.
A compra, em saldo, do BPN pelo BIC é de facto mais um exemplo de uma tendência empresarial, diz a TVI, que não pára de crescer: “o reforço do investimento de origem angolana em Portugal”. A expressão “de origem angolana” está mais próxima da verdade.
Os accionistas do BIC são, na sua esmagadora maioria, angolanos: Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos, detém 25% das acções. Fernando Teles, o presidente do banco angolano, outros 20 %. O português Américo Amorim, outros 25%.
Mas no que à banca nacional diz respeito, os interesses de Angola (melhor dizendo, dos donos de Angola) não ficam por aqui. A Sonangol, petrolífera angolana, é a maior accionista do BCP, com 12,44% do capital do banco português. E no BPI, Isabel dos Santos é accionista de referência com 9,69%.
Mas os investimentos (de alguns, sempre os mesmos) angolanos vão para além da banca. Outros negócios, o mesmo nome: Isabel dos Santos detém 33,37% da Galp através da participação na Amorim Energia, e é ainda dona de 10% da ZON Multimédia.
Mas os interesses dos donos de Angola estão também na informação portuguesa: em 2009 a angolana Newshold comprou 51% do semanário «Sol».
Do ponto de vista, pouco relevante – é certo, da verdade, os jornalistas não deveriam falar de investimentos angolanos, mas apenas de um pequeno grupo de angolanos que é dono do país deles e que quer ser dono (já é) do país dos outros.
O grupo ou clã de José Eduardo dos Santos, presidente da Angola há 32 anos sem nuca ter sido eleito, e também do MPLA, partido que “governa” o país desde 1975, representa só por si muito perto de 100% do Produto Interno Bruto angolano.
A Global Witness, por exemplo, diz que Angola e a sua "companhia petrolífera opaca é exemplo chave" de receitas petrolíferas desbaratadas e "postas ao serviço de um Estado-sombra onde o único resultado real para a maioria da população é a pobreza", sendo os bancos "cúmplices" no esquema, "parte da estrutura que permite que isso aconteça".
Na realidade, o sistema de finanças públicas angolano mantém duas vias de despesa. Uma é o orçamento oficial, gerido pelo Tesouro; o outro é um sistema não convencional via Sonangol, que não está sujeito a escrutínio público.
Segundo a análise da organização, com base em relatórios do Fundo Monetário Internacional, todos os anos ficam por contabilizar em média 1,7 mil milhões de dólares do Tesouro angolano. A média deverá equivaler a mais de 20 por cento do PIB angolano. Coisa pouca...
A Global Witness recorre ao epíteto de "Estado falhado de sucesso" - da autoria do académico português Ricardo Soares de Oliveira, da Universidade de Oxford - para enquadrar uma situação de aflição social em que "em vez de contribuir para o desenvolvimento, o sucesso da Sonangol tem estado sobretudo ao serviço da presidência e das suas ambições".
Acresce que o Alto Hama, bem como mais alguns (poucos) jornalistas que não têm coluna vertebral amovível, já se “cruzou” várias vezes com a Global Witness, exactamente no deserto onde se defendem causas e não o petróleo de sangue.
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