segunda-feira, agosto 29, 2011

Viva a liberdade de Imprensa. Viva o quê?


É confrangedor o culto ao chefe por parte dos invertebrados portugueses. Mas há uma vantagem. Quando o chefe passa de bestial a besta… eles mudam logo de barricada.

No caso português, sempre me custou a entender como é que socialistas inteligentes se mantiveram tantos anos de cócoras. Nos tempos mais recentes, também há muitos sociais-democratas na mesmo posição. Para já só estão de cócoras há dois meses…

Também me custa a aceitar (cada vez menos, é verdade) que Portugal seja uma espécie de país onde os que dizem sempre que sim são bestiais e, é claro, onde os que só dizem que sim quando devem dizer que sim, são umas bestas.

Bastou esperar que Sócrates deixasse o poleiro para se ver que, afinal, havia muitos socialistas que até achavam que o então primeiro-ministro era uma besta.

Agora é só esperar que o mesmo se passe com Passos Coelho. Embora só com dois meses de liderança do governo já é possível ver que, afinal, também ele prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica.

Embora não vá à missa de Pacheco Pereira, creio que ele tinha  razão quando disse (20 de Maio de 2010) que os sociais-democratas não tinham dúvidas, perante os elementos recebidos pela Comissão de Inquérito à compra da TVI, “da existência no ano de 2009 de uma operação política de carácter conspirativo de controlo de órgãos da comunicação social, desenvolvida com conhecimento do primeiro-ministro por quadros do PS nas empresas em que o Estado tem participação”.

Aliás, a forma como os elementos do PS que integram a respectiva Comissão de Inquérito expeliam ódio quando alguém criticava o sumo pontífice do partido era reveladora, entre outras coisas, de que quem deve... teme.

Embora seja uma prática corrente nas ocidentais praias lusitanas, alguém com alguma sanidade mental duvida que os governos de José Sócrates, tal como agora o de Pedro Passos Coelho, foram os que mais trabalharam para que os jornalistas fossem formatados, com ou sem chip, consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder?

Se calhar, como me diziam alguns ex-jornalistas que eram no tempo do PS assessores, directores, administradores, deputados etc., e como me dizem hoje ex-jornalistas ligados ao PSD e que são assessores, directores, administradores, deputados etc. o melhor era aceitar a derrota e na impossibilidade de o vencer, juntar-me a eles.

Para mim seria com certeza uma boa opção ter-me juntado na altura ao PS e hoje ao PSD. Não estaria certamente no desemprego. O mal está, digo eu, que só é derrotado quem deixa de lutar. E, pelo menos para já, a luta continua… embora de barriga vazia.

E continua porque, ao contrário dos donos do poder e dos lacaios ao seu serviço, continuo a lutar para que a imprensa não seja o tapete do poder, tenha ele as cores ou a denominação social que tiver.

Recordam-se, por acaso, de quem disse que "Sócrates reduz a política à sua pessoa"? Não. A frase não é minha, embora reflicta a minha opinião. Aliás, de há muito que aqui digo (aqui e onde posso, sendo que não posso em todos os sítios que gostaria) que o então primeiro-ministro tinha todas as características de um ditador.

Mas , tal como agora acontece, essa característica só foi conhecida quando chegou ao poder. E também nesta matéria Passos Coelho é diferente de José Sócrates. Sobretudo porque o líder do PSD quer fazer tudo como se não houvesse amanhã.

Num artigo de opinião do jornal Público há para aí três anos, intitulado "Contra o medo", Manuel Alegre criticava "a confusão entre lealdade e subserviência" que, segundo o socialista, se verificam no Governo de José Sócrates. A crítica assenta hoje que nem uma luva a Pedro Passos Coelho. A diferença está que, até agora, ainda ninguém no PSD se atreveu o dizer isso, a dizer o que muitos já pensam.

Não creio que por enquanto (eu sei que sou optimista) Pedro Passos Coelho seja dos que pegam na pistola quando ouvem falar de jornalistas. E não pega por duas razões: Por um lado, se tal for necessário tem os seus lacaios (alguns transitaram do PS) que se prestam a tal serviço, por outro, os países mais civilizados da Europa (e não só) usam meios mais sofisticados para calar as vozes incómodas.

De facto, não é preciso dar um, ou quantos forem precisos, tiro no Jornalista. Basta oferecer-lhe uma pistola e depois fazer-se uma reestruturação empresarial (sinónimo óbvio de despedimentos). Quando o Jornalista descobrir que não tem dinheiro para pagar o empréstimo da casa ou os estudos dos filhos... dá um tiro na cabeça.

Tal como Sócrates, Passos Coelho lá terá também as suas razões. Convenhamos que a verdade às vezes incomoda, seja em Portugal (Nuno Simas), na Rússia (Anna Politkovskaia) ou em Moçambique (Carlos Cardoso).

Aliás, é comovedor ver todos aqueles que estão de pistola em punho saírem à rua para dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado. Sagrado sim, desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.

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