Um soldado morreu e dezenas de civis ficaram hoje feridos na sequência de um ataque a três camiões carregados com alimentos, em Mogadíscio, capital do que resta da Somália.
Com a habitual hipocrisia dos donos do mundo, que usam tantos pesos e tantas medias quanto convém aos seus interesses, continuam as organizações humanitárias, a coberto da teoria de ajudar quem morre de fome a cada segundo, a pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres.
As tropas do governo (forma eufemística de se falar dos senhores da guerra) dispararam e lutaram entre si enquanto carregavam a ajuda alimentar enviada pelo Programa Alimentar Mundial da ONU.
O incidente aconteceu no acampamento de Badbaado, nos arredores da cidade, e provocou a fuga de centenas de refugiados, de acordo com testemunhas no local. Alguns refugiados conseguiram fugir com algum alimento.
"As forças do governo roubaram todos os camiões. Tenho muita sorte da minha família estar a salvo. Não sei para onde vou mas tenho de sair daqui para salvar a minha vida e a dos meus filhos", afirmou Aliyow Hussein, um homem de 40 anos e pai de três filhos.
É claro que Aliyow Hussein é um homem cheio de sorte. Para além de conseguir fugir ainda se pode gabar de ter chegado aos 40 anos de vida, num amontoado de destroços do que foi uma colónia do Reino Unido e de Itália onde a esperança média de vida é inferior aos 48 anos.
Cerca de 3,7 milhões de somalis (no total serão pouco mais do que oito milhões) estão ameaçados pela fome, a maioria no sul do país, o que leva milhares de pessoas a rumar para a capital na procura de algo para uma barriga habituada a estar vazia.~
Só nos últimos dois meses, cerca de 100 mil refugiados chegaram a Mogadíscio, mesmo com a ameaça permanente da milícia islâmica Al Sahabaab, que controla a maior parte das zonas atingidas pela seca.
É claro que, entre pelo menos três refeições e umas tantas garrafas de whisky, a comunidade internacional mostra alguma preocupação com aquela gente.
David Orr, porta-voz da agência da ONU, afirmou, segundo a agência Reuters, que a distribuição dos alimentos decorreu sem problemas durante as duas primeiras horas, mas depois descontrolou-se. "Segundo algumas testemunhas no local, a distribuição ficou fora de controlo. A partir daí o roubo de alimentos começou. Parte do que nos restava perdeu-se", concluiu.
Pois é. Ao fim e ao cabo, nada de novo. Pela fome ou pelos tiros, os somalis (neste caso) continuam a morrer. A comunidade lamenta mas, com uma ou outra excepção, olha para o lado, assobia e continua a bombardear a… Líbia. Tudo porque, como é habitual, são pretos a morrer…
E como se não bastasse serem pretos, a Somália tem uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo, com cerca de 10% das crianças morrem pouco depois de nascer e 25% das sobreviventes morrem antes dos 5 anos de idade e é um dos oito países mais pobres do Mundo.
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