O Governo português, liderado por Pedro Passos Coelho, nomeou, em mês e meio, 447 pessoas, das quais 73 têm ou tiveram ligações aos partidos da coligação.
“A nossa preocupação não é levar para o Governo amigos, colegas ou parentes, mas sim os mais competentes. Isto não é desconfiança sobre o partido, mas sim a confiança que o partido pode dar à sociedade”, afirmava há muito, muito tempo (já lá vai um… mês), o primeiro-ministro de Portugal.
Pedro Passos Coelho garantia nesses tempos, que já parecem tão longínquos, que as nomeações seguirão o critério da competência das pessoas, “sejam ou não do PSD”.
Numa altura em que quase todos fogem sem pensar, parecia que Passos Coelho pensava sem fugir. Ele tinha, contudo, uma enorme vantagem. Não era, como não é, obrigado, como cada vez mais acontece com os competentes, a pensar com a barriga... vazia.
Será desta que, em Portugal, veremos trabalhadores, administradores, gestores, políticos, a serem avaliados de forma objectiva e imparcial, sem que para essa avaliação conte o cartão do partido, os jantares com o chefe ou a prenda de anos no aniversário do director?, perguntava eu – ingénuo como sempre.
A resposta não tardou a chegar. Cada vez mais, em Portugal, a competência é, continua a ser, substituída pela subserviência, não adiantando instituir do ponto de vista legal o primado da transparência quando toda a máquina é constituída por agentes opacos.
O tecido político, sobretudo na sua vertente da governação, está a mudar? Está. Isso é verdade. Durante muitos anos as decisões pareciam sérias, mas não eram. Passou-se agora para a fase em que não parecem nem são.
Até agora, nas empresas do Estado e nas privadas, nos organismos públicos e na actividade política, o ambiente é (como sempre foi) de valorização exponencial do aparente, do faz de conta, do travesti profissional que veste a farda que mais jeito dá ao capataz.
Até à chegada do novo governo a ordem oficial era para apoiar, basta ver o exemplo do ex-chefe do reino socialista e dos seus vassalos, todos aqueles que às segundas, quartas e sextas elogiavam o chefe, às terças, quintas e sábados o director, e ao domingo esboçavam elogios a quem pensassem que podia vir a ser chefe , director ou primeiro-ministro.
Esperou-se, entretanto, para ver se com o governo PSD/CDS a coisa iria ser de facto diferente. Não foi preciso esperar muito. A conclusão é fácil. Mais uma vez, em Portugal ninguém quer saber que o “stradivarius” que julgam ter é, afinal, feito com latas de sardinha e foi comprado na Feira da Vandoma, no Porto.
Pelo meio deste circuito aparecem sempre os super-sipaios que acalentam a esperança de um dia serem chefes de posto e que, no cumprimento de ordens superiores, passam ao papel tudo o que o chefe manda, mesmo que no lugar da assinatura tenham de pôr a impressão… digital.
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