Miguel Relvas tem razão quando calcula que, com mais meia dúzia de lentilhas, os jornalistas que ontem eram do PS passam hoje a ser do PSD.
Em declarações à Lusa e, em resposta as declarações do ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, que acusou no passado dia 10 de Maio o PSD de querer “desmantelar” o serviço público televisivo, Miguel Relvas (então “apenas” secretário-geral do PSD) considerou ser “inaceitável que uma televisão pública custe aos portugueses um milhão de euros por dia”.
Só faltou acrescentar que, afinal, o PSD não tem a mínima responsabilidade nisso, não é?
“Parece-nos inadequado e inaceitável”, sublinhou o então secretário-geral do PSD, “particularmente num momento de crise”, em que os portugueses já têm encargos com a casa, saúde, educação, entre outras despesas.
Jorge Lacão “foi ministro dois anos com a tutela da comunicação social e não fez nada, rigorosamente nada, para inverter a situação que se vive na Comunicação Social pública”, acusou Miguel Relvas, passando mais uma vez a esponja laranja sobre os tempos em que permitiu, e que agora renova, o regabofe dos seus “boys” na RTP.
Segundo Jorge Lacão, a proposta do PSD de “privatizar a RTP1 e fazer entrar privados na RTPi e RTP África não tinha paralelo em nenhum outro país no espaço europeu, mesmo nos que estão a receber ajuda externa”.
Esta brincadeira dos meninos do PS... D faz-me lembrar que o anterior ministro português da propaganda, que também acumulava com os Assuntos Parlamentares, rejeitou "em absoluto", a existência de qualquer interferência do Governo na RTP e considerou na altura, Julho de 2009, que o PSD revelava "desconhecimento" do que é o serviço público de rádio e televisão.
Augusto Santos Silva tinha toda a razão. Diria, toda e mais alguma. E se há matéria em que ele é o perito dos peritos, a interferência ou manipulação da comunicação social é uma delas.
O então ministro português da propaganda respondia no Parlamento ao deputado social-democrata Agostinho Branquinho, hoje um dourado “ongoing”, que acusou a RTP de estar a ser instrumentalizada pelo Governo e pelo PS e de prosseguir há três anos uma "estratégia de silenciamento" do PSD nos seus noticiários.
Logo na altura considerei uma infantilidade a acusação do PSD, isto porque o governo do PS sabia como ninguém a melhor forma de fazer as coisas, sabia como manipular “sem manipular”, como interferir “sem interferir”, fosse na RTP (que pelos vistos tanto preocupa o PSD) ou em muitos outros meios.
Agostinho Branquinho baseou a acusação feita à RTP nos relatórios da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre o pluralismo político-partidário no serviço público de televisão nos anos de 2006, 2007 e 2008.
"Em 2008, uma vez mais, de acordo com o relatório, houve uma sub-representação do PSD no serviço público de televisão", apontou Branquinho, dizendo que isso aconteceu também nos dois anos anteriores.
Na resposta, tal como depois Jorge Lacão, Santos Silva disse que as declarações de Agostinho Branquinho "só revelavam da parte do PSD o desconhecimento absoluto do que é o serviço público de televisão e de rádio".
"Nem o Governo, nem o PS, nem qualquer outro partido tem qualquer interferência na informação do serviço público de rádio e televisão. Não sei se havia isso no tempo [dos governos] do PSD, mas com este Governo não há nenhuma interferência", declarou Santos Silva.
Nesta como em quase todas as outras matérias, o melhor é encerrar Portugal para balanço. Mas, antes, importa dizer que com o actual Governo o certo é que acabem todos aqueles que, sobretudo na Imprensa (lato sensu), não obedecem.
Contudo existe uma enorme diferença entre Miguel Relvas e Augusto Santos Silva, ou até mesmo Jorge Lacão. Neste tema, apesar de tudo, creio que o PSD ainda tem de aprender muito com o PS. Em matéria da manipulação na comunicação social, os então SS, Sócrates e Silva, chegaram tão cedo que o Governo ainda hoje não deu por isso.
Os então governos do soba maior (sem ofensa para estes) José Sócrates chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, fazer de grande parte da “imprensa o tapete do poder”, transformar jornalistas em “criados de luxo do poder vigente", convencer os mais cépticos de que mais vale ser um propagandista de barriga cheia do que um ilustre Jornalista com ela vazia.
Mas não ficou por aí. Chegou tão cedo que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, convencer os jornalistas que devem pensar apenas com a cabeça... do chefe, mostrar aos Jornalistas que ter um cartão do PS era mais do que meio caminho andado para ser chefe, director ou até administrador.
Miguel Relvas tem razão quando calcula que, com mais meia dúzia de lentilhas, os jornalistas que ontem eram do PS passam hoje a ser do PSD.
E se amanhã voltarem ao PS, nada de mal acontecerá. Portugal é uma gamela onde têm lugar cativo todos os que são do PS…D.
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