A odisseia dos africanos que tentam chegar à Europa continua a ser escrita com páginas dramáticas. Este fim-de-semana, das pelo menos 127 pessoas que a partir do Senegal tentaram chegar às ilhas Canárias, em Espanha, apenas 25 foram salvas por pescadores, junto da cidade senegalesa de Saint-Louis. Como habitualmente, viajavam numa embarcação sem as mínimas condições de navegabilidade.
O testemunho dos sobreviventes é igual ao de todos os outros registados em idênticas tentativas. A embarcação virou-se e a maioria dos africanos morreu afogada. Muitos outros, segundo os depoimentos recolhidos pelas autoridades, já tinham morrido à fome e à sede, durante a tentativa de travessia.
Os sobreviventes contaram que a viagem, cujo destino prometido era as Canárias, teve início no passado dia 3, a partir de Casamança, uma região do Sul do Senegal, mas que fora abortada pouco depois devido ao mau tempo junto à costa de Marrocos.
Numa outra tentativa, uma embarcação arribou, na quarta-feira, à praia de Yoff, nos arredores de Dacar, com 30 pessoas a bordo que pertenciam a um outro grupo que também tentava chegar a Espanha.
As repatriações de clandestinos realizadas por Espanha, entre Setembro e Outubro, no âmbito da Operação Frontex (iniciativa conjunta de Espanha e do Senegal, para travar o fluxo migratório ilegal para as Canárias), bem como as más condições meteorológicas, reduziram drasticamente as saídas de embarcações a partir das costas senegalesas.
Sobreviver, eis a questão
Todavia, as crescentes dificuldades de sobrevivência em muitos países africanos levam muita gente a, com risco da própria vida, tentar chegar à Europa, dando corpo à tese de que ficar é continuar no inferno.
Segundo os últimos dados disponíveis, mais de 30 mil pessoas chegaram desde Janeiro às Canárias procedentes do Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Mauritânia e Marrocos. No mesmo período, cerca de cinco mil senegaleses foram repatriados.
Mas estes são os números dos vivos, porque cerca de três mil terão morrido na desesperada tentativa de pisar solo europeu.
A imigração clandestina, sobretudo oriunda de países sub- sarianos, constitui um dos marcos europeus este ano, atingindo, sobretudo, Espanha, onde 8,8% da sua população são imigrantes.
O facto de ser a fronteira Sul da União Europeia e ter um bom desempenho económico aparece aos olhos dos famintos africanos como um oásis que está bem perto, apenas a 14 quilómetros do estreito de Gibraltar, um local que durante muitos anos foi a principal porta de entrada para milhares de pessoas que procuravam o sonho europeu.
Uma força à economia
Cerca de 3 milhões de estrangeiros, sobretudo latino-americanos, têm visto de residência em Espanha, segundo o Observatório Permanente da Imigração, o que corresponde a mais 4,9% do que em 2005. Os estrangeiros em situação irregular devem rondar 1,6 milhões, sendo que o Governo regularizou em 2005 cerca de 800 mil "imigrantes ilegais".
A questão divide os dois principais partidos. O PP considera que legalizar imigrantes é abrir as portas de Europa a todo o tipo de gente, mas o PSOE afirma que são uma adicional fonte de riqueza que, ao mesmo tempo, combate a economia paralela.
Um recente estudo revelou que a Espanha cresceu em média 2,6% ao ano nos últimos dez anos, graças à contribuição dos imigrantes. Sem eles, o Produto Interno Bruto espanhol teria caído 0,6%. Com menos de 10% da população da UE em 1995, Espanha foi responsável por cerca do 30% do crescimento total de população europeia. Em cada 100 novos moradores da Europa, mais de 25 são estrangeiros instalados na Espanha.
Fonte: Jornal de Notícias/Orlando Castro
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