"Voltei ao Paquistão para viver ou morrer com o meu povo", afirmou Benazir Bhutto quando, ao fim de oito anos de exílio, em Outubro, regressou ao país e sofreu o primeiro atentado que fez mais de 140 mortos. Ontem, dois tiros acabaram com a maratona da ex-primeira-ministra que, tal como o seu pai, tombou na luta política pela liderança do país na qual o seu principal rival era o presidente Musharraf. O país estremeceu, a região ficou em alerta e o Mundo faz contas à mais do que provável implosão regional.
Conhecida a morte de Bhutto, ocorrida numa das cidades consideradas das mais seguras, Rawalpindi, perto de Islamabade, num atentado terrorista em que o atirador também se fez explodir causando dezenas de mortos, os paquistaneses, apoiantes da ex-primeira-ministra, mas não só, sairam às ruas em diversas cidades do país, manifestando-se violentamente contra tudo e todos. As forças de segurança, militares e polícias, foram colocados em alerta máximo e o presidente apelou à calma.
O presidente paquistanês, Pervez Musharraf, decretou imediatamente três dias de luto nacional e prometeu mobilizar "toda a nação para eliminar estes terroristas e extirpar as suas raízes". Apesar disso, a Oposição acredita que o crime beneficia os actuais detentores do poder, sobretudo porque eliminou a principal opositora e candidata à liderança do Governo.
Falando à multidão que se juntou em frente do hospital de Rawalpindi, onde Bhutto sucumbiu, Nawaz Sharif, que também regressara há pouco para participar nas eleições legislativas marcadas para 8 de Janeiro, disse aos militantes do Partido do Povo Paquistanês (PPP, de Bhutto) que "partilhava, tal como toda a nação, a mesma dor", prometendo, contudo, que "passará a liderar, a partir de agora, a guerra contra os adversários da democracia e que é necessário ganhar, também em memória e honra de Benazir.
Uma das primeiras reacções ao assassinato veio do Afeganistão, um vizinho que pode apanhar com os estilhaços da violência e da instabilidade que possa ocorrer, como tudo indica, no Paquistão. O presidente afegão, Hamid Karzai, que acabara de regressar de um encontro com o seu hmólogo paquistanês, condenou o atentado, considerando-o um acto "infame de imensa brutalidade".
Outro vizinho, igualmente uma potência nuclear, a Índia, classificou como um "acto abominável" o assassínio de Benazir Bhutto.
"Este bárbaro ataque terrorista é particularmente trágico não só para o Paquistão como para todos os países da região", afirmou o ministro indiano dos Negócios Estrangeiros, Pranab Mukherjee, salientado "o contributo para a democracia e para a melhoria das relações com a Índia promovido pela ex-primeira-ministra, uma mulher excepcional".
As reacções a condenar o atentado surgiram em catadupa de todos os cantos do Mundo, desde as Nações Unidas (que reuniu de emergência o Conselho de Segurança) aos EUA, passando, entre outros, pela Presidência portuguesa da União Europeia e pela Rússia .
E agora?
A reacção de George W. Bush, mais do que a esperada condenação, mostrou um presidente tenso. E não será para menos. Washignton analisa agora, com a rapidez possível, o dia seguinte. Tudo por que a instabilidade e o risco de implosão envolve um país aliado na luta contra o terrorismo, detentor de armamento nuclear e que recebe muitos milhões de dólares dos EUA para todo o tipo de actividades e onde os militares têm um papel que em muito transcende os parâmetros castrenses.
Embora Benazir não fosse hostil à Administração Bush, é com Musharraf que os EUA se entendem. Estão, por isso, preocupados com o rumo que o país possa tomar, temendo uma bola de neve de revoltas que possam terminar numa guerra civil.
Fonte: Jornal de Notícias/Orlando Castro
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