«Uma das alternativas encontradas por muitos no meio urbano para a sua sobrevivência é a actividade de roboteiro ou seja o transporte de pedras ou outras mercadorias na cabeça e carrinhos de mão», dizem, continuam a dizer, fontes que acompanham as dificuldades de sobrevivência dos ex-militares da UNITA.
Terá valido a pena ser militar da UNITA? Terá sido para isto que o mais Velho tanto lutou? As perguntas são minhas embora julgue serem comuns a muitos desses soldados.Terá sido para isto que tantas vezes, em Umbundu (mas não só) Jonas Savimbi dizia «ise okufa, etombo livala»? (em português, prefiro antes a morte, do que a escravatura).
Num cenário em que os poucos que têm milhões continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, não me custa a crer que a ausência de tiros não seja sinónimo de paz.
Mal por mal, antes a morte do que a escravatura. E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, agora é o enxovalho de transportar pedras à cabeça para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”.
«Sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!» Morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados, ou ser escravo na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.
Até quando Senhor José Eduardo dos Santos? Até quando Senhor Isaías Samakuva?
Foto: 4 de Abril de 2002, o chefe das Forças Armadas de Angola, à direita, Armando da Cruz Neto, e Abreu Muengo 'Kamorteiro', comandante da FALA
1 comentário:
A DICOTOMIA SOCIAL EM ANGOLA NÃO SE COMPADECE COM AS CÔRES POLÍTICAS.
1 ) A situação descrita não é exclusiva de alguns dos antigos combatentes das FALA, ela é também de antigos combatentes das FAPLA e, sobretudo, é uma situação que abrange alguns dos substractos mais baixos da sociedade angolana, por razões de luta pela sobrevivência, particularmente de jovens que estão em situação de desemprego, ou de sub emprego nas grandes cidades.
2 ) Assim sendo, acho que se deve analisar as situações correntes em Angola, fora do âmbito típico da guerra fria.
3 ) Da minha parte, prefiro alertar para os impactos das filosofias e ideologias características do neo liberalismo, que em Angola promovem um punhado de ricos, em prejuízo da esmagadora maioria, sem perder de vista a ponte histórica que se deve fazer em relação ao passado.
4 ) Nesse sentido, largas franjas de partidários do MPLA e da UNITA, estão "contaminados" pela "doutrina de choque", o que se torna visível agora, pela "terapia" que é imposta pela via do GURN, do qual fazem parte MPLA e UNITA!
5 ) Desse modo, o que está em causa é, para mim, a neutralização do movimento de libertação, neutralização essa em relação à qual, também Savimbi teve a sua substancial quota parte de responsabilidade histórica.
6 ) Ele foi utilizado integrando e conformando o "choque", para depois ser sacrificado na síntese duma "nova geração" que traz consigo, enquanto elite, a "terapia" neo liberal!
Martinho Júnior
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