domingo, dezembro 02, 2007

Uma verdadeira declaração de apreço a África
que pode, e deve, ser feita pelos portugueses

Maria Pinto escreveu-me o texto que se segue. Vale a pena, e de que maneira, lê-lo com toda a atenção.

«Há poucos dias li um artigo no blog revolucaoemangola.blog.com que um grupo de apenas vinte Angolanos e alguns Portugueses manifestaram-se frente ao consulado de Angola, contudo eles consideraram a sua acção um "sucesso". Nos últimos meses, eu não tenho saído de casa (depressão), tenho pensado muito e cheguei a conclusão que um dos motivos da minha actual situação é, o de não pertencer realmente a nada.

Permita-me expressar melhor! Eu sou filha de Angolanos mestiços, de nacionalidade portuguesa; nasci em Portugal; cresci em Portugal, num bairro cuja grande maioria da população viveu em África, inclusive os brancos; estudei a História, a Literatura, a Geografia de Portugal; fui absorvendo tanto a cultura portuguesa como a africana; mas nunca me senti nem Angolana, nem Portuguesa, embora tenha uma profunda estima pelos dois lados. Tenho mais de 20 anos e nunca votei. Penso que em Portugal devem existir muitos jovens assim, sem nação, sem pátria, embora sintam-se ligados aos dois lados.

Hoje, quando leio sobre Angola, tudo que já sofreu até aos nossos dias, e penso quão rica em recursos e em cultura é, sinto uma profunda vontade de ajudar o país a melhorar. Gostava de também ter participado na manifestação, mas sinto-me demasiado triste. Neste momento, considero o mundo demasiado impiedoso e injusto, não tenho forças para agir, para sair.

Ao longo destes "longos" meses de reclusão, eu pude compreender melhor que a grande maioria dos Portugueses não é contra a cultura africana, muito pelo contrário, admiram-na bastante e foram em grande parte, ao longo dos séculos, influenciados por ela. Os Portugueses são também um povo muito humilde e solidário. A manifestação por Timor, foi só um dos exemplos da solidariedade portuguesa. Mas muitos jovens descendentes de imigrantes não o sabem e as escolas contribuem também para isso.

O objectivo deste e-mail é declarar o seguinte: se existe alguém capaz de chamar atenção para Angola, e mais precisamente para o direito de voto da diáspora (talvez mesmo, o direito de voto de todos os Angolanos), são neste momento os Portugueses.

Uma verdadeira declaração de apreço à África. E, provavelmente a repercussão chegaria como um sim à muitos jovens Portugueses que se perguntam se o podem ser, Portugueses, sem terem de renegar as suas raízes africanas. Embora, eu tenha certeza que Lisboa nunca será uma Paris!

Por exemplo, através de um voto simbólico, a bandeira de Angola depositada numa urna; ou pessoas vestidas com as cores da bandeira; qualquer tipo de manifestação simples e eficaz. Quiçá, o senhor, como angolano-português, conhecesse algum grupo pessoas sem medo e capazes de organizar tal feito.

No que diz respeito à minha pessoa, espero deixar de ser tão medrosa, começar a lutar pelo que acredito, e sentir que pertenço.»

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