sábado, dezembro 01, 2007

Chávez quer construir um país à sua imagem


«Se a reforma constitucional proposta pelo presidente da Venezuela tiver o apoio maioritário no referendo de amanhã, como indicam as sondagens, tudo será diferente no país, não só ao nível da eternização de Hugo Chávez no poder, como também na própria geografia política, territorial, económica e social.

Os venezuelanos dividem-se, mas a maioria estará com Chávez que, para esses, prometeu ir ao bolso dos ricos buscar o que falta aos pobres. Embora a Oposição indique um empate técnico entre o "sim" e o "não", os observadores internacionais admitem que o carisma, embora populista, do presidente e o manancial de propostas direccionadas aos mais desprotegidos vão ser o factor que irá decidir o sentido do voto.

Dizendo ter 100 novas leis à espera da aprovação da reforma constitucional, Hugo Chávez acena com o poder popular, economia socialista, lei do trabalho e segurança social, tudo temas que os venezuelanos sentem diariamente como carecendo de substanciais alterações.

Menos viradas para o eleitorado, mas igualmente relevantes no socialismo do século XXI que Chávez quer implementar, estão o reforço do seu poder executivo, a instauração do poder popular e a reorganização político-administrativa do país (novos estados federais).

Apesar de tudo, quando a esmola é grande o pobre desconfia. Foi isso mesmo que a Oposição tentou transmitir com algum êxito, mensurável pelas manifestações, algumas violentas, que aconteceram por todo o país e que mobilizaram milhares de venezuelanos.

Desde que chegou ao poder, em 1999, Chávez sofre pela primeira vez alguma contestação dentro dos seus tradicionais aliados. O presidente diz compreender a "mesquinhez de pensamento dos que discordam", e explica que isso acontece porque alguns "têm dificuldade em entender o processo revolucionário".

O êxito da Oposição, a que não é também alheio o clima de conflito permanente que Chávez mantém com outros países (EUA, Espanha, Colômbia, Brasil), levou a equipa do presidente a mobilizar milhares de simpatizantes para acções de propaganda casa a casa.

Segundo a AFP, a historiadora Margarita López Maya, a primeira intelectual chavista a criticar as iniciativas do presidente depois da sua reeleição em Dezembro, afirma que "há muito mal-estar dentro das bases chavistas", principalmente pela maneira como foi apresentada a reforma e pelo seu conteúdo, acrescentando que as dissidências incluem também altos quadros militares, até agora incondicionais de Chávez, como o general Raúl Baduel.

Baduel, que foi ministro da Defesa até Julho e é conhecido no núcleo duro de Chávez como "o general da dignidade", fama que conquistou por ter derrotado a tentativa de golpe de Estado de 2002, referiu que a proposta de reforma do presidente "nada mais é do que um novo golpe de Estado".

O general defende ideias sociais-democratas, um pouco à semelhança da esquerda moderada da América Latina, que passam por manter boas relações com o Ocidente.

Com Chávez continua a linha mais dura que advoga o uso do petróleo como arma para transformar a Venezuela na maior potência regional, mesmo que seja preciso sacrificar a democracia, os direitos humanos e a liberdade de expressão.

A Oposição espera que o "não" vença, mesmo sabendo que, se tal acontecer, Chávez continuará no poder. Tudo porque, dizem, o presidente terá de remodelar a sua estratégia e os venezuelanos saberão que é possível derrotá-lo.

Portugueses dividem-se mas participam em força

A comunidade portuguesa da Venezuela deverá votar em massa, firme no desejo de que a tranquilidade impere e que os resultados sejam aceites, mas admite que o "futuro é incerto".

A Oposição apela para que vote "não", mas as opiniões dividem-se. Enquanto uns defendem a reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez, porque "o país precisa de aprofundar as mudanças, principalmente no social", outros estão contra porque dizem não estar esclarecidos quanto ao significado do "socialismo do século XXI" e temem a possibilidade de a Venezuela avançar para um regime "castro-comunista".

Na Venezuela, estão radicados, segundo dados oficiais, 700 mil portugueses. Somando os luso-descendentes serão 1,5 milhões.

O cônsul-geral de Portugal em Valência, Rui Monteiro, disse à Lusa que o Consulado não recebeu qualquer "pedido de diligência de alguém com inquietações"."A comunidade portuguesa está perfeitamente integrada na sociedade venezuelana e tem as mesmas percepções que a generalidade dos venezuelanos", afirmou.Em Caracas, segundo o cônsul Teles Fazendeiro, a procura dos serviços consulares mantém-se alta, comparativamente à média de 2006 "Aproximadamente 350 pessoas vêem diariamente ao Consulado", esclareceu.»

Fonte: Orlando Castro/Jornal de Notícias (Portugal)

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