segunda-feira, janeiro 14, 2008

Num país a abarrotar de kwanzas
um “Novo Jornal" feito em dólares

Angola vai ter um novo semanário generalista a partir de dia 24 que garante (onde está a novidade?) ser independente de todos os poderes e que quer ser líder no mercado angolano, afirmou hoje à Lusa o seu director, Victor Silva. Mal era se o director não dissesse que quer ser independente. Falta saber se o deixam ser. Espero que sim.

Apesar de já terem sido publicadas notícias a apontar o projecto como sendo "próximo" do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, ou ainda como tendo como "propósito estratégico" defender os interesses do actual poder, nas mãos do MPLA, durante as eleições legislativas de Setembro, Victor Silva nega que isso seja verdade e enfatiza a independência do Novo Jornal face ao poder político-partidário.

Como da fama não se livra, espero que consiga provar o contrário. Até porque, em Angola ou em Portugal, não é fácil ser independente quando – de facto – os milhões estão nas mãos de poucos. Veremos se este novo jornal se destina a esses poucos que têm milhões ou se, como lhe compete, vai dar voz aos milhões que têm pouco e que são obrigados a estar calados.

Por outro lado, adianta o mesmo responsável, o Novo Jornal pretende ser "líder no mercado angolano e um jornal de referência" no panorama da comunicação social do país, numa altura em que Angola tem sete semanários privados e um diário (o estatal Jornal de Angola). Líder junto das elites que têm os dólares, ou do povo que só tem kwanzas?

O Novo Jornal é um investimento da ESCOM, empresa do português Grupo Espírito Santo, que através do Banco Espírito Santo Angola (BESA) tem fortes interesses no país, e da New Media Angola S.A.

Pela aragem tudo leva a crer que o sucesso se medirá em dólares. Não será defeito, mas se calhar Angola precisará de outro tipo de jornais. Digo eu que não percebo nada da matéria.

Das 48 páginas do jornal, a principal aposta é claramente no seu caderno de economia de 12 páginas, para marcar a diferença mas também para explorar um segmento que os investidores e a direcção do Novo Jornal acreditam ter grande potencial face ao famoso crescimento económico de Angola, um dos países com maior crescimento no mundo.

É isso aí. Independente sim, mas com contas feitas em dólares. Kwanzas não enchem barriga.

3 comentários:

MV disse...

Assim vai a minha amada Angola...

Anónimo disse...

Cilito la conseguiste.Jornalismo independente e coisa que nao se aplica a ti.O teu patrao eo Aldemiro da Conceicao.

Anónimo disse...

Caríssimo…
As criticas quando construtivas... mostram mais inteligência!
Eu pessoalmente tenho lido o “novo jornal” desde a sua 1ª edição e ate agora espantei-me com a qualidade das noticias, bem redigidas, informativas e com o máximo possível de imparcialidade. Claro, como em qualquer negócio, tem de haver algum lucro, pois acredito que ninguém trabalhe de graça… alias a organização de qualquer jornal de qualidade tem os seus custos…se não quem pagaria as contas de luz, impressão, papel e outras coisas mais? …