quarta-feira, maio 04, 2011

A mentira (2006-03-22), JN

«José Manuel Durão Barroso, ex-primeiro-ministro de Portugal, actual presidente da CE, disse ontem, num programa da televisão francesa, o que já toda a gente sabia e ele agora admite sem vergonha, sem arrependimento ou ponta de constrangimento ao apoiar a intervenção norte-americana no Iraque agiu com base "em informações que não foram confirmadas".

Barroso, apesar da responsabilidade de ser primeiro-ministro, ainda que de um pequeno país, preferiu não confirmar a existência de armas de destruição maciça. Ele achou-se bem melhor no papel de anfitrião dos poderosos e justiceiros ao lado dos quais posou para a posteridade, nos Açores.

Espantoso é que Durão queira agora convencer-nos de que, estando a Europa dividida nessa altura, era difícil tomar uma opção. É mentira também. Não era difícil. Outros o fizeram. É claro que não foram outros, mas sim Durão Barroso, que, uns tempos depois, chegou onde está hoje, fugindo da presidência do Governo português, quando o país passou a ser pequeno para a sua ambição.

A história, normalmente, não perdoa. Pode demorar muito ou pouco, mas a história acaba fazendo justiça. O que espanta em tudo isto é a volta ao prego que Barroso consegue dar ao afirmar que a Europa agora está unida e estamos a fazer o melhor para estabilizar o Iraque e a região.

Eu prefiro pensar que um primeiro-ministro do meu país não fez nem disse nada disto. Eu prefiro pensar que quem fez isto foi um rapazola chamado Zé Manel, corajoso o suficiente para comandar manifs estudantis, mas que deu de frosques quando percebeu que as mordomias não se conquistam à pedrada, mas fechando olhos e ouvidos à realidade.»

http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=542188

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