Em Angola estima-se que existam 400 mil pessoas infectadas com o vírus da SIDA, apresentando uma taxa de prevalência de 2,5 por cento, que é o valor mais baixo entre os países da África Austral. Os dados foram hoje revelados em Luanda pelo vice-ministro angolano da Saúde, José Van-Dúnem, na cerimónia que assinalou o Dia Mundial contra a SIDA.As autoridades sanitárias angolanas registaram cerca de 21.700 casos de SIDA no país desde 1985, dos quais cerca de 8.000 doentes estão a receber tratamento com antiretrovirais.
"Hoje já temos cerca de oito mil pessoas com tratamento antiretroviral, o que significa que avançamos bastante em dois anos, mas queremos mais", afirmou José Van-Dúnem, defendendo a necessidade de ser adoptadas "acções específicas para populações mais vulneráveis".
As autoridades angolanas estenderam o tratamento com antiretrovirais às 18 capitais provinciais do país, possuindo ainda 83 centros de acolhimento e promoveram a realização de testes voluntários em 23 unidades onde funciona o programa de prevenção da transmissão vertical da doença.
Este programa já beneficiou cerca de 1.500 mulheres grávidas angolanas infectadas com o vírus, que realizaram medidas de profilaxia para prevenção da transmissão vertical.
Segundo os dados oficiais, estão actualmente a ser acompanhadas 778 crianças que nasceram de mães seropositivas, das quais 159 já realizaram o teste de rastreio da SIDA, que indicou ser positivo em seis dessas crianças.
Angola é actualmente o único país da África Austral que apresenta uma taxa de prevalência de SIDA inferior a cinco por cento, mas vários responsáveis das Nações Unidas têm alertado para a necessidade de serem adoptadas medidas que permitam aproveitar esta situação para combater o alastramento da doença.
Com esse objectivo, o governo angolano, em colaboração com vários parceiros nacionais e internacionais, lançou este ano uma campanha de sensibilização dirigida aos jovens, num esforço para combater a falta de informação sobre a doença.
3 comentários:
O problema é confiar nos números principais.
Dois anos atrás a FESA (Fundação Eduardo dos Santos) realizou o maior seminário sobre SIDA que aconteceu até hoje em Angola. O que realmente sobressaiu nessa altura (e as mudanças ainda não aconteceram...) foi da incapacidade dos serviços de saúde detectarem os casos de portadores do HIV e os casos de SIDA.
Os poucos indicadores na altura (que continuam a ser os mesmos poucos)permitiam antever uma situação muito mais grave. Aliás na altura falava-se oficialmente em 5% da população, hoje fala-se em 2,5%. Ora a não existência de unidades hospitalares especializadas (apenas existe um pequeno hospital em Luanda), a não existência de estruturas generalistas de saúde, a não existência de campanhas sérias para além de alguns anúncios na televisão e rádio estatais fazem-me duvidar seriamente de tais números e muito mais da possível diminuição da percentagem da população infectada.
O indicador mais seguro foi dado pela Directora do único hospital especializado no HIV/SIDA que respondendo a uma entrevista nessa altura declarava que em cada 12 pessoas que faziam o teste no hospital 8 estavam infectadas. Tal número embora assustador também não é representativo já que só recorrerá ao hospital quem suspeita de ser portador. E portanto será mesmo muito complicado acertar nos números.
Mas deixem-me garantir-vos que a situação é mesmo muito mais séria. Uma ONG angolana a que pertenço, faz insistentes cursos e acções esclarecimento junto das populações dos bairros mais pobres de Luanda e de outras cidades. E é impressionante a desinformação que existe. Desde pessoas que não acreditam que a doença existe, até a individuos mais abastados que criaram o mito de que praticando relações sexuais com uma jovenzinha virgem ficam sem o virus passando-o para a desditosa criança.
Morre-se afinal de tudo na nossa terra, porque haveríamos de ser excepção na pandemia do HIV/SIDA ?
400.000 são os números oficiais tal como os 2,5%. Não se discute da verdade dos números, enquanto oficiais. O problema está em saber se realmente serão reais face às inúmeras dificuldades em as populações serem analisadas por equipas médicas.
Ainda assim, é bom que se reconeça que, ao contrário da África do Sul que tem a maior ou segunda maior população infectada - os últimos censos dão a Índia como o outro país - e que tem uma Ministra que diz que os alhos e a beterraba são a cura para o Sida ou que o seu presidente diga que o Sida não existe enquanto, ao lado, o seu antecessor enterrava o filho acabado de falecer vítima do Sida.
Nesse aspecto, felizmente, Angola não aprende com ninguém.
Mas bom seria que Angola copiasse a sua irmã do Índico e apelasse a um controlo automático de todos sobre o Sida.
Povo prevenido vale por dois e pela dúvida há que acabar com ela.
Não esqueçamos que alguns senhores sentem-se realizados em "adoptar" catorzinhas algumas já várias vezes adoptadas e andando pelas ruas "descalças".
Kandandu
Eugénio Almeida
A propósito do que o Elcalmeida disse deixem-me acrescentar - o País de África mais infectado é o Botswana com números que rondam os 40% da população. Mas a pandemia neste País parece começar agora a regredir, por causa dos programas estatais e privados em curso.
Sobre a África do Sul o problema não foi exactamente como o articulista refere. Efectivamente o governo sul-africano, recusou-se a pactuar com os laboratórios internacionais (nomeadamente a Welcome)que são donos da patente dos retrovirais. Por causa disso todas as frases dos membros do governo sul-africano, susceptíveis de serem descontextualizadas e utilizadas numa campanha de difamação foram-no. A campanha foi paga pelos tais laboratórios obviamente. Mas essa guerra levou a que o governo sul-africano possa agora produzir nos laboratórios do país retrovirais por 25% do preço que saiem por exemplo a Angola.
Quanto a Angola a questão das catorzinhas não é displicente. Das características estudadas até agora da pandemia em Angola, pode-se concluir que a sua difusão se fez das classes económicas mais favorecidas para as classes menos favorecidas ao contrário dos outros países africanos. Outro elemento difusor da doença em Angola foram as forças militares, que ao abusarem sistematicamente das populações difundiram a doença.
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