«Em primeiro lugar agradecer à autora o honroso convite que me endereçou para vos falar sobre o seu novo romance e os simpáticos agradecimentos que Ana Paula Castro colocou no “Sou Jornalista, você é Árabe?”.
Em segundo para rectificar uma pequena imprecisão da autora quanto a este vosso interlocutor: não sou jornalista!
Escrevo, rabisco, alguns artigos, comentários e/ou análises de opinião mais por causa da minha vertente académica e por razões associativas ligadas à Casa de Angola que por outros motivos quaisquer.
Felizmente que também tive a sorte de conhecer alguém que achou – para mal dos seus pecados e que por acaso está aqui ao meu lado – qualidades mínimas para falar, por escrito, daquilo que mais primordialmente gosto: de África, a minha, a nossa África, e da Lusofonia
Mas não é de e sobre mim que estamos aqui para ouvir falar.
Estamos aqui para falar de “Sou jornalista, Você é Árabe” o novo romance de Ana Paula Castro.
Um romance que não foge à linha habitual de escrita de Ana Paula Castro. Um romance crítico e discretamente acutilante, quanto baste, no que respeita às diferenças sociais, às mal-contidas intolerâncias religiosas e homofóbicas e, principalmente, quanto às diferenças entre povos e continentes. A mania da superioridade intelectual europeia e ocidental sobre os povos chamados de subdesenvolvidos mas que foram a génese da actual humanidade.
Talvez esteja aqui o grande problema. Os nossos avós e Mais Velhos não souberam educar os seus descendentes de modo a não serem tão intelectualmente empertigados e entediados mas que, pela sua ancestral natureza, nunca perderam os seus sentidos e espíritos animistas de “não acredito em bruxas, mas…” que elas andam por aí e que nos têm como clientes habituais, lá isso têm!
Recordo uma passagem do “Sou jornalista, Você é Árabe” quando uma das personagens do livro, rico, culto, possuidor de uma boa máquina e de uma quinta nos arredores da grande capital, principal accionista de uma cadeia de televisão onde as imagens choque são o pão-nosso de cada dia e que não lhe merecem mais que um olhar de desdém, não se coibiu de ir a uma das cidades-satélites da capital portuguesa, mais concretamente a um dos chamados bairros sociologicamente problemáticos dos arredores, solicitar os bons ofícios de uma macumbeira (ou uma chingange) para evocar os eternos kazumbiris de modo a provocar a desgraça social de uma das principais heroínas do romance ou um xamanismo amoroso a outra das personalidades deste romance de Ana Paula Castro.
Ou seja, se intelectualmente as personagens da obra – e da vida – são muito cultas, muito abertas às liberdades de pensamento, muito científicas, constata-se que quando o espírito acorda o misticismo, que encerramos há milénios, é este que acaba por prevalecer sobre toda a multicultura recolhida e travestidamente acumulada ao longo da nossa vida.
E este é um dos principais aspectos sociológicos que Ana Paula Castro, na extensão do seu romance, mostra e prova.
Outro, mais abrangente, e muito bem referenciado pelo Sheikh Munir, no seu Prefácio, prende-se com as diferenças culturais entre as duas famílias-base da obra, mais concretamente, com as vicissitudes, as dicotomias, o forte e já enunciado misticismo que ambas encerram, e os preconceitos entre o Ocidente e o Oriente e onde começa a de um e acaba o do outro.
Poder-vos-ia enunciar e ler algumas passagens interessantes deste romance de Ana Paula Castro, “Sou Jornalista, você é Árabe?”. Realmente poderia, e talvez o devesse fazer.
Mas prefiro que sejam os leitores a descobrir essas magníficas e descritivas passagens, a humanidade, franca e leal, que se encurrala em algumas das personagens, a beleza da descrição – por vezes crua e incisiva, muito crua e muito incisiva, – de certos lugares realçados pela autora, e a, chamemos assim, telepática transmissão entre uma mãe, perdida nos confins do Corno de África rodeada pela guerra e pelo desespero, e uma filha recém-jornalista, que desconhece a sua verdadeira e real ancestralidade genética.
O romance consegue-nos agarrar do princípio ao fim, mantendo uma das características habituais nas obras de Ana Paula Castro; ficarmos com a sensação que ainda não acabou, que ficou muito por dizer e explicar e que vai ter uma sequela o que, conhecendo-a, dificilmente acontecerá. Ou seja, serão os leitores que decidirão como continuará, no efémero éter e no vosso acervo cerebral, o romance “Sou Jornalista, você é Árabe?”
Parabéns Ana Paula Castro por esta nova obra certos de que ficaremos a aguardar pelas novas aventuras que sairão da sua magnífica pena, ou não fosse a escrita a melhor forma que um escritor tem para exprimir o que sente no fundo da sua alma.»
Nota: Livro apresentado ontem na FNAC do Chiado, em Lisboa
Mas não é de e sobre mim que estamos aqui para ouvir falar.
Estamos aqui para falar de “Sou jornalista, Você é Árabe” o novo romance de Ana Paula Castro.
Um romance que não foge à linha habitual de escrita de Ana Paula Castro. Um romance crítico e discretamente acutilante, quanto baste, no que respeita às diferenças sociais, às mal-contidas intolerâncias religiosas e homofóbicas e, principalmente, quanto às diferenças entre povos e continentes. A mania da superioridade intelectual europeia e ocidental sobre os povos chamados de subdesenvolvidos mas que foram a génese da actual humanidade.
Talvez esteja aqui o grande problema. Os nossos avós e Mais Velhos não souberam educar os seus descendentes de modo a não serem tão intelectualmente empertigados e entediados mas que, pela sua ancestral natureza, nunca perderam os seus sentidos e espíritos animistas de “não acredito em bruxas, mas…” que elas andam por aí e que nos têm como clientes habituais, lá isso têm!
Recordo uma passagem do “Sou jornalista, Você é Árabe” quando uma das personagens do livro, rico, culto, possuidor de uma boa máquina e de uma quinta nos arredores da grande capital, principal accionista de uma cadeia de televisão onde as imagens choque são o pão-nosso de cada dia e que não lhe merecem mais que um olhar de desdém, não se coibiu de ir a uma das cidades-satélites da capital portuguesa, mais concretamente a um dos chamados bairros sociologicamente problemáticos dos arredores, solicitar os bons ofícios de uma macumbeira (ou uma chingange) para evocar os eternos kazumbiris de modo a provocar a desgraça social de uma das principais heroínas do romance ou um xamanismo amoroso a outra das personalidades deste romance de Ana Paula Castro.
Ou seja, se intelectualmente as personagens da obra – e da vida – são muito cultas, muito abertas às liberdades de pensamento, muito científicas, constata-se que quando o espírito acorda o misticismo, que encerramos há milénios, é este que acaba por prevalecer sobre toda a multicultura recolhida e travestidamente acumulada ao longo da nossa vida.
E este é um dos principais aspectos sociológicos que Ana Paula Castro, na extensão do seu romance, mostra e prova.
Outro, mais abrangente, e muito bem referenciado pelo Sheikh Munir, no seu Prefácio, prende-se com as diferenças culturais entre as duas famílias-base da obra, mais concretamente, com as vicissitudes, as dicotomias, o forte e já enunciado misticismo que ambas encerram, e os preconceitos entre o Ocidente e o Oriente e onde começa a de um e acaba o do outro.
Poder-vos-ia enunciar e ler algumas passagens interessantes deste romance de Ana Paula Castro, “Sou Jornalista, você é Árabe?”. Realmente poderia, e talvez o devesse fazer.
Mas prefiro que sejam os leitores a descobrir essas magníficas e descritivas passagens, a humanidade, franca e leal, que se encurrala em algumas das personagens, a beleza da descrição – por vezes crua e incisiva, muito crua e muito incisiva, – de certos lugares realçados pela autora, e a, chamemos assim, telepática transmissão entre uma mãe, perdida nos confins do Corno de África rodeada pela guerra e pelo desespero, e uma filha recém-jornalista, que desconhece a sua verdadeira e real ancestralidade genética.
O romance consegue-nos agarrar do princípio ao fim, mantendo uma das características habituais nas obras de Ana Paula Castro; ficarmos com a sensação que ainda não acabou, que ficou muito por dizer e explicar e que vai ter uma sequela o que, conhecendo-a, dificilmente acontecerá. Ou seja, serão os leitores que decidirão como continuará, no efémero éter e no vosso acervo cerebral, o romance “Sou Jornalista, você é Árabe?”
Parabéns Ana Paula Castro por esta nova obra certos de que ficaremos a aguardar pelas novas aventuras que sairão da sua magnífica pena, ou não fosse a escrita a melhor forma que um escritor tem para exprimir o que sente no fundo da sua alma.»
Nota: Livro apresentado ontem na FNAC do Chiado, em Lisboa
3 comentários:
Obrigado pela visita e sugestoes.
Namibiano
Venho por aqui em meu nome pessoal agradecer a visita ao blog Pensar e Falar Angola http://www.blogdangola.blogspot.com, no entanto queria lastimar a 'autopublicidade' lá efectuada, num comentário que tal como este nada tem a ver com o post. É curioso verificar a não existência de um link na coluna da direita deste blog...
Sempre a considerar
João Carlos Carranca, um dos co-autores do referido blog
Já tinha pensado comprar o livro mas depois do que li, já não tenho dúvidas. Leio muito mas não conheço a autora.É sempre tempo.
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