O Presidente da República de Portugal descobriu hoje a pólvora. Para apoiar a promoção da língua portuguesa e programas de cooperação entre membros da CPLP sugeriu a criação de "uma bolsa única de recursos humanos e financeiros".
Discursando na cerimónia de inauguração da nova sede da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em Lisboa, Cavaco Silva reiterou que o português é "um idioma que há muito justifica a sua elevação oficial a língua oficial nos diferentes organismos internacionais de que são membros os Estados da CPLP, começando, desde logo, pelas próprias Nações Unidas".
A este propósito, o Presidente lembrou o seu discurso feito em português no primeiro debate aberto do Conselho de Segurança das Nações Unidas sob presidência portuguesa, em Nova Iorque.
"A nossa língua é já hoje a sexta mais falada no mundo e, ainda mais importante, um dos idiomas em maior expansão, fruto não só do crescimento demográfico dos nosso países mas, também, do aumento exponencial no interesse que vem suscitando a nível global", declarou Aníbal Cavaco Silva.
Para o Presidente da República, esta realidade "constitui um extraordinário activo estratégico, em termos políticos e económicos", que obriga todos os países membros da CPLP a apostarem "na educação e na formação" em língua portuguesa "como prioridade".
Prioridade que, creio eu, será acompanhada – entre outros - pela Austrália, Indonésia, Luxemburgo, Suazilândia, Ucrânia e Guiné-Equatorial.
"Sabemos que nem todos temos os mesmos recursos no domínio da língua", notou Cavaco Silva, que neste contexto defendeu "uma concertação de esforços a nível político, que permita criar condições logísticas e financeiras para que aqueles que dispõem de meios humanos possam apoiar quem mais deles necessita".
"A CPLP poderia ser o fórum ideal para essa reflexão conjunta e para adopção de programas de cooperação abrangendo todos os seus membros, com base numa bolsa única de recursos humanos e financeiros", advogou.
Na sua intervenção, o chefe de Estado salientou mais do que uma vez as "oportunidades de índole política e económica" que pode trazer a "expansão da língua portuguesa como verdadeira língua universal".
"Importa prosseguir os esforços no sentido da implementação efectiva das orientações dos chefes de Estado e Governo nesta matéria e, em particular, das medidas previstas no plano de acção de Brasília", sublinhou.
Descoberta a pólvora, em enquanto os ilustres convidados rumaram para um repasto à altura, grande parte do povo da CPLP (incluindo Portugal) continua a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com fome.
Quanto à CPLP, cuja presidência está nas mãos do democrata, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, continua a fazer inaugurações e a brinda os seus ilustres protagonistas com repastos do tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet.
A democracia que faz brilhar os olhos dos bem nutridos dirigentes da CPLP tem destas coisas. Ou se é favor de quem está no poder ou, é claro, vai-se para a choldra. Ou se é a favor ou choca-se com uma bala perdida.
Longe da sede da CPLP passa o facto de dois em cada três guineenses viverem na pobreza absoluta e uma em cada quatro crianças morrer antes dos cinco anos de idade.
Ao lado da CPLP passa igualmente o perfil do cliente angolano em Portugal, que representa 30% do mercado de luxo português. São sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.
Ao lado também passa o perfil da esmagadora maioria do povo angolano. É pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.
A CPLP sabe que, por exemplo, 58% dos angolanos vivem na miséria. Mas para ela são mais importantes os angolanos de primeira (todos adeptos certamente do socialismo democrático do MPLA) que não olham a preços, procuram qualidade e peças com o logo visível, sendo comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.
Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Mas isso, convenhamos, não é problema para a CPLP.
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