A Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas portugueses será extinta em Março, segundo uma portaria publicada hoje em Diário da República.
A medida insere-se numa "nova fase da reforma da Administração Pública" e do cumprimento do decreto-lei 211/2006 de 27 de Outubro que aprovou a extinção progressiva das caixas de previdência social.
Além da Caixa de Jornalistas, serão também extinguidas as caixas de previdência dos trabalhadores da Empresa Portuguesa das Águas Livres, do Pessoal das Companhias Reunidas Gás e Electricidade e do Pessoal dos Telefones de Lisboa e Porto.
A "Cimentos" - Federação de Caixas de Previdência e suas caixas federadas serão igualmente extinguidas.
"A extinção das caixas de previdência é efectivada por integração no Instituto da Segurança Social IP, que assim sucede àquelas instituições nas respectivas atribuições, sendo os beneficiários e contribuintes integrados total e definitivamente no Sistema de Segurança Social", lê-se no documento.
Neste processo, fica garantida a transição do pessoal e a integração do património destas caixas para o Instituto da Segurança Social.
Acho uma boa, para além de inevitável, medida no que aos jornalistas respeita. Ou seja, se o jornalismo está em acelerado estado de putrefacção e a caminho da extinção, não se justifica a existência de uma Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas.
É que, julgo eu, não basta trabalhar numa Redacção para se ser jornalista. Conheço, aliás, muitos que quanto mais trabalham nas Redacções mais se afastam do Jornalismo.
Os jornais (é claro que também as rádios e as televisões) não são um produto feito à medida dos jornalistas e/ou dos consumidores mas, isso sim, dos empresários. São, cada vez mais, um negócio ou, melhor, uma forma de comércio. São apenas mais um produto em que os seus fazedores (na circunstância catalogados de jornalistas) são escolhidos à e por medida.
Ou seja, basta ter dinheiro para ser dono de um jornal, basta ter um jornal para lá mandar pôr o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro ou da amante.
Os jornalistas, mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. Vender, vender sempre mais. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na maioria dos casos, os jornalistas.
Os jornalistas são os montadores que, de acordo com o mercado, alinham as peças de um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua. Se o que vende é dar uma ajuda ao partido do Governo, são essas as peças que têm de montar, nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.
Se o que vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os salários aos seus trabalhadores, promover criminosos despedimentos ou apostar no trabalho infantil.
Se o que vende é dar cobertura às ditaduras (sejam as de Bashar al-Assad ou José Eduardo dos Santos), são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a parecerem dos melhores exemplos democráticos.
Pouco importa tudo o resto.
Assim sendo, as linhas de montagem não precisam de jornalistas. Tudo o resto são cantigas, tenha a classe uma Ordem ou apenas, como agora, um Sindicato. Tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal ou Burkina Faso.
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