Via meninos do Huambo, para todos os meninos de África.
Com fios feitos de lágrimas de dor
os meus meninos do Huambo choram
ainda marcados pelo muito horror
da miséria e da fome onde moram.
Com os lábios de muito dizer aiué
soletram pensamentos de esperança
como quem se alimenta de tanta fé
inebriada pelos sorrisos de criança.
Os meus meninos à volta da fogueira
já aprenderam que dizer a verdade
será talvez mais uma bonita bandeira
mas que o melhor é não falar de saudade.
Com os sorrisos mais lindos do planalto
- Essa é uma certeza para a eternidade,
fazem contas engraçadas de sobressalto
e subtraem a fome a sonhos de igualdade.
Dividem a chuva miudinha pelo milho
como se isso fosse o seu eterno destino,
soltam ao céu toda a dor feita andarilho
no seu estilhaçado mundo peregrino.
Os meus meninos à volta da fogueira
não vão aprender novas palavras
porque a dor da miséria é cegueira
que alimenta todos os dias as lavras.
Assim descontentes à voltinha da poesia
juntam palavras do tempo que passa
para ver se alimentam a barriga vazia
e se descobrem o fim de tanta desgraça.
2 comentários:
a verdade é sempre bonita, mesmo se nos ofende... um abraço.
Carlos Narciso
a verdade é sempre bonita, mesmo se nos deixa o coração apertado.
Um abraço.
Carlos Narciso
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