Portugal vive saturado de (des)informação e não há nada que lhe valha. O Pedro substituiu o José, o Miguel o Augusto mas o reino continua a ser dos Joaquins…
E não há nada a fazer. E não há porque aos fazedores de informação, outrora chamavam-se jornalistas, (sejam, ou não, amigos do José, do Pedro, do Miguel ou do Joaquim) restam duas opções: serem domados e manter o emprego, ou o inverso.
É claro que, no meio desta enorme teia de corrupção, há lugares para todos, mas sobretudo para os invertebrados, quase todos amigos do José, do Pedro, do Miguel e do Joaquim. Dos primeiros para agradar aos sobas, do segundo para não perderem o emprego.
Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até vemos os Josés, os Pedros e os Joaquins do reino a recordar, comovidos, os jornalistas assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.
Aliás, já se começaram a ver muitos dos Josés, dos Pedros e dos Joaquins que amordaçam os jornalistas, a ir para a ribalta com a bandeira da liberdade de expressão, forma mais ou menos eficaz de ninguém reparar na sua face oculta e na sua apologia pelo calor da noite.
Durante muitos anos o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu, dá e dará, um notório e inédito contributo: os despedimentos. Isto, é claro, para além de haver um outro instrumento de medição que se chama corrupção.
Até já estamos a ver alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
“Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.
Há cinco anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.
Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos dos jornalistas nem ao dos donos dos donos dos jornalistas.
E a resposta não se fez esperar: Jornalista só é bom se hoje for amigo do Pedro, do Miguel e do Joaquins. Mas sobretudo dos Joaquins. É que os outros vão à vida, mas os Joaquins esses estão sempre na vida.
Nos últimos seis anos, por exemplo, pelo menos 181 jornalistas que não eram amigos do Josés nem dos Joaquins e que trabalhavam nas redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).
Pois é. Mas quem os mandou ser Jornalistas? Os que quiseram ser tapetes do poder continuam, por enquanto, a ter emprego...
Não é a primeira vez que este texto é aqui publicado. Reeditei-o no dia 11 de Agosto de 2011 em homenagem a um camarada, companheiro e amigo que então partira (o Jornalista José Dias Gomes), bem como a alguns dos Jornalistas que dele se despediram.
Aurélio Cunha, António Graça, Artur Miranda, Carlos de Sousa, Costa Carvalho, Fernando Martins, Frederico Martins Mendes, Gomes de Almeida, Jorge Monteiro Alves, Luís Alberto Ferreira foram alguns dos que estiveram presentes.
Hoje faço-o em homenagem a mais alguns que começam agora a tentar dobrar as esquinas da vida. A próxima repetição deverá acontecer dentro de poucos meses, altura em que, com novo ou velho grafismo, surgirá um novo (desta vez já não inédito) despedimento colectivo.
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