O decano dos democratas africanos, Robert Mugabe, completou hoje 88 anos. Ao povo disse que, é claro, quer continuar no poder. E vai continuar porque, como um dia disse, só Deus o pode demitir.
Em entrevista à sua televisão, o presidente do Zimbabué afirmou estar saudável e em forma. E, mais do que isso, conta com o esmagador apoio do seu povo, até mesmo daqueles que já morreram mas que ressuscitam quando há eleições.
Recorde-se contudo que no começo de seu mandato, Mugabe foi elogiado pela comunidade internacional, sobretudo devido ao sistema educativo e social que implementou.
É certo que os inimigos deste impoluto democrata e acérrimo defensor dos direitos humanos passam a vida a denegrir a imagem do grande líder, certamente por ser ter comparação com o seu amigo angolano, José Eduardo dos Santps.
Esses inimigos continuam a dizer, como se alguém acreditasse, que há campos de tortura no Zimbabué, geridod pelas forças de segurança do país.
A descoberta deste "centro de tortura", vejam só, coincidiu (recordam-se?) com a intenção desse baluarte dos direitos humanos a nível mundial, a União Europeia, de intensificar o comércio de diamantes (que obviamente nada têm de sangue) de duas importantes minas, localizadas na região de Marange, a mesma onde supostamente estão esses centros de tortura.
De acordo com a BBC, testemunhas afirmam que os campos de tortura estão em actividade há vários anos. Em Marange, as forças governamentais "recrutam civis para procurar diamantes de forma ilegal e encaminham os que oferecem resistência para os campos de tortura", assim como os que "procuram diamantes por conta própria".
"Recebemos 40 chibatadas pela manhã, 40 à noite e mais 40 durante a madrugada", afirmou à BBC uma das vítimas libertadas em Fevereiro do ano passado.
"Usaram pedaços de madeira para bater nos pés, enquanto eu estava no chão e acertavam com pedras nos tornozelos", referiu.
Um ex-oficial, que trabalhou no campo principal, em 2008, afirmou, segundo a BBC, que torturou prisioneiros, algumas vezes com a ajuda de cães. "Os prisioneiros eram algemados e soltávamos os cães para os morder".
Bem vistas as coisas, apenas se trata de métodos copiados dos mais evoluídos sistemas ocidentais, de que são exemplos Guantánamo (Cuba) ou Abu Ghraib (Iraque).
Um dos campos, localizado na cidade de Zengeni, (a pouca distância da mina Mbada, uma das explorações a que a UE espera dar "luz verde") conhecido como a "Base Diamante", é composto por tendas militares, numa área delimitada por arame farpado, com o objectivo de não deixar fugir eventuais prisioneiros.
É claro que a UE diz que as duas minas na área passaram a obedecer aos padrões internacionais e quer que os diamantes destas áreas sejam aprovados imediatamente para exportação, o que suspenderia parcialmente um embargo imposto em 2009.
O embargo passou a vigorar por determinação do chamado Kimberley Process (KP), organização internacional que fiscaliza o comércio de diamantes, o órgão que denunciou os assassinatos e os abusos por parte das forças de segurança nos campos de diamantes de Marange.
O KP foi criado pela indústria de diamantes, por governos de vários países e organizações não-governamentais para evitar a entrada no mercado de diamantes vindos de áreas de conflito.
Nick Westcott, um porta-voz do grupo de trabalho do KP, disse que a descoberta dos campos "é algo que não foi relatado ao Processo Kimberley".
Em Junho de 2011, o presidente do KP, Matieu Yamba, anunciou formalmente que a proibição da exportação de diamantes de duas das minas de Marange tinha sido suspensa.
Mas, é claro, nada disto é um obstáculo para a UE. Basta recordar, por exemplo, que Margaret Thatcher, que em Maio de 1979 se tornou a primeira mulher a dirigir um governo britânico, proibiu nesse ano o seu enviado especial à Rodésia de se encontrar com Robert Mugabe.
O argumento, repare-se, era o de que "não se discute com terroristas antes de serem primeiros-ministros", segundo arquivos oficiais britânicos desclassificados no dia 30 de Dezembro de 2009.
"Não. Por favor, não se reúna com os dirigentes da 'Frente Patriótica'. Nunca falei com terroristas antes deles se tornarem primeiros-ministros", escreveu - e sublinhou várias vezes - numa carta do Foreign Office de 25 de Maio de 1979 em que o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Peter Carrington, sugeria um tal encontro.
Ou seja, quando se chega a primeiro-ministro, ou presidente da República, deixa-se de ser automaticamente terrorista. Não está mal. É verdade, eu sei, que sempre assim foi e que sempre assim será.
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