Por muita força que tenha a máquina repressora do regime angolano (e tem-na), por muito apoio que tenha de alguns órgãos de comunicação estrangeiros, como a RTP, nunca conseguirá fazer esquecer que 70% dos angolanos vivem na miséria.
Apesar da muita força do MPLA, apesar dos muitos amigos que tem, chamem-se eles Cavaco Silva, Passos Coelho ou Paulo Portas, nunca fará esquecer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Nunca fará esquecer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Nunca fará esquecer que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros, que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população, que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.
Nunca fará esquecer que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Aliás, desde 1975 que o poder em Angola nunca deixou de ser exercido por uma só pessoa, nunca o poder legislativo foi eleito sem que os angolanos “votassem” com a barriga, ou seja, por um saco de fuba, peixe podre, 50 angolares e porrada se refilares.
Por muito que nos areópagos da CPLP (bem comidos e bebidos) se diga o contrário, a verdade é que pela “Constituição” do MPLA (dizer que é de Angola é o mesmo que dizer que é o povo quem manda na Sonangol), o Presidente da República é o “cabeça de lista” (ou seja o deputado colocado no primeiro lugar da lista), do partido mais votado, eleito pelo círculo nacional nas eleições para a Assembleia Nacional.
Não é uma eleição indirecta, feita pelo parlamento (como acontece por exemplo na República da África do Sul), mas uma vigarice típica dos regimes a quem não basta ser totalitário.
Assim, o futuro presidente é o primeiro deputado da lista do partido mais votado, mesmo que esse partido tenha apenas 25% dos votos expressos. Por outras palavras, para ter a certeza de que não vai perder as eleições presidenciais, José Eduardo dos Santos pura e simplesmente acaba com elas.
Pela “Constituição do MPLA”, o Presidente de Angola nomeia o Vice-Presidente, todos os juízes do Tribunal Constitucional, todos os juízes do Supremo Tribunal, todos os juízes do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da Republica, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, os Chefes do Estado Maior dos diversos ramos destas.
Na verdade, tal como Bokassa, Idi Amin ou Mobutu, José Eduardo dos Santos já fazia tudo isso. Mas fazia-o de forma ilegal. Certamente a conselho dos grandes amigos portugueses (alguns, se calhar, são os mesmos que supostamente venderam limpa-neves para Angola), o presidente angolano resolveu a questão de forma definitiva. Tornou legal o que era ilegal.
Sobre os contrastes que existem em Angola, ou seja, a de país rico em recursos naturais como petróleo e diamante e os seus altos níveis de pobreza, questão colocada por uma jornalista alemã na altura da visita de Merkel a Luanda, o dono de Angola disse “só pode chegar a esta conclusão quem não conheceu Angola antes da independência e o percurso até agora”.
Nem mais. Só faltou dizer aos portugueses para continuarem como até aqui, quietos, calados e de cócoras para não obrigarem José Eduardo dos Santos a fazer o que está a ser feito por Passos Coelho: pô-los a peixe podre, fuba podre, cinquenta angolares e, é claro, sujeitos a porrada se refilarem…
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