"O desejo de Lisboa é que o Norte nunca venha a ter líder. É um pouco essa lógica pitonisesca de que o Norte está condenado a não ter líder. Há quem trabalhe para, na secretaria, conseguir esse desiderato", afirma Luís Filipe Menezes.
Não é um, obviamente, recado para os “sulistas e elitistas”, mas uma mensagem encoberta para os donos do seu partido, o PSD, e uma demonstração de que o fantasma chamado Rui Rio continua a tirar-lhe o sono e os sonhos de protagonismo.
Das muitas supostas grandes ideias do presidente da Câmara de Gaia, e para além da visível tentativa de estimular uma vaga de fundo que o leve ao colo a ser candidato à autarquia do Porto, recordo outras duas: a criação do Ministério da Lusofonia e o caso do jornal “O comércio do Porto”.
Sendo que em matéria de Lusofonia todos sabem o que a cas gasta, avancemos para o jornal.
“Até à próxima!”, titulava O Comércio do Porto na sua derradeira edição. E não houve próxima. Para outros, mais dia menos dia, também não haverá próxima.
Não haverá, entenda-se, para os jornalistas. E não haverá porque ao comércio de jornalismo só interessam os que não pensam. Os que entendem que quem não vive para servir não serve para viver não têm lugar num negócio em que, de facto, vale tudo menos dar uma oportunidade aos jornalistas.
Em Julho de 2005 li o editorial do Rogério Gomes que dizia: "O Comércio do Porto não acaba em definitivo". Mas acabou. Era previsível. É difícil sobreviver quando se luta num meio, jornalístico, empresarial e político, em que prolifera o primado da subserviência em vez do primado da competência.
"Confio que o mais antigo jornal do Continente ressurgirá em breve e continuará o seu papel insubstituível de voz da Região Norte", escreveu então Rogério Gomes, contrariando na altura “A Capital” que assumia ser o “Fim”.
É "mais um duro golpe na perda de influência do Porto no panorama nacional da comunicação social e até mesmo da vida económica", sublinhou nesse tempo o líder do PS/Porto e candidato à Câmara local, Francisco Assis.
Teve razão. Mas não basta tê-la. O que fez o PS, que por sinal estava no Governo? Nesta matéria, como em tantas outras, limitou-se a valorizar a subserviência em detrimento da competência.
Por sua vez, a Direcção da Organização Regional do Porto do PCP (DORP) manifestou "total disponibilidade para participar num movimento cívico em defesa desta publicação, contrariando a sua subtracção à vida social e cultural do Porto".
Pois. Mas não bastou. Como continua a não bastar. Entre a disponibilidade e a acção vai uma grande distância.
Por seu lado, o então deputado do Bloco de Esquerda João Teixeira Lopes, chamou à empresa proprietária dos jornais, a Prensa Ibérica, "investidores-predadores".
Esqueceu-se de, na altura, dizer que a culpa é de quem forneceu a corda que a Prensa Ibérica utilizou para enforcar os trabalhadores. E quem a forneceu fomos todos nós.
... e pelos vistos ainda há por aí muitos metros de corda pontos, prontinhos, para enforcar mais uns tantos.
Também o presidente Distrital do PSD/Porto, Marco António Costa, emitiu em Julho de 2005 um comunicado manifestando "preocupação" pela suspensão do jornal que - disse - "tem desempenhado um papel importante na sociedade civil nortenha".
Pois. E o que fez o PSD para evitar a situação?
Ainda na área social-democrata, o presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, apelou à Junta Metropolitana do Porto para estudar uma solução que garanta a sobrevivência do matutino “O Comércio do Porto”.
Na altura escrevi: Falta é saber se amanhã o autarca de Gaia ainda se lembra do que disse hoje. Esqueceu-se no próprio dia.
Sem comentários:
Enviar um comentário