Com a bênção do democrata (apesar de não eleito e há 32 anos no poder) presidente de Angola, e com o agachamento dos restantes países, a Guiné-Equatorial está a centímetros de ter os dois pés dentro da CPLP.
É evidente que a entrada da Guiné-Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) “não vai mudar nada o regime de Teodoro Obiang” (onde está a novidade?), afirmou já em Julho de 2010 à Agência Lusa um dos líderes da oposição em Malabo.
“Obiang está no poder desde 1979 e vai continuar a violar os direitos humanos, a torturar e a prender”, declarou Celestino Bacalle, vice-secretário geral da Convergência para a Democracia Social (CPDS).
“Nada mudou na ditadura nestes anos todos nem vai mudar com a entrada na CPLP. Quem muda são os que antes criticavam a situação na Guiné-Equatorial e agora são convencidos pelo dinheiro, pelo petróleo e pelos negócios”, acusou o número dois da maior plataforma da oposição equato-guineense.
“Hoje, os que tinham uma posição crítica sobre a ditadura de Obiang mudam de posição depois de visitarem Malabo”, ironizou o dirigente da oposição, responsável pelas relações políticas internacionais da CPDS.
“A adesão à CPLP não nos surpreende. A candidatura era previsível, na linha do que Obiang tem feito com outras organizações internacionais. Ele quer mostrar ao povo guineense que o dinheiro pode comprar tudo o que ele quiser. O pior é que tem razão”, denuncia o dirigente da CPDS.
“Obiang está a conseguir que as portas se abram em todo o lado para o regime. Apoiam-no agora para ter o nosso petróleo mais tarde”, sublinhou.
“O que constatamos é que África avança a três velocidades, não a duas. Há uma África dos países que já atingiram a democracia, há outra dos países que estão a caminho de atingir esse objectivo e depois há o grupo da Guiné-Equatorial, onde assistimos a um retrocesso”, afirmou Celestino Bacalle.
“A Guiné Equatorial faz parte do pior de África, mas isso não interessa a quem fica convencido pelas promessas de negócios”, acrescentou o líder da oposição.
“É uma vergonha para muitos governos africanos que fecham os olhos ao que se passa na Guiné-Equatorial”, uma crítica que, diz Celestino Bacalle, “serve também para o Governo português”.
“Obiang não admite influência de ninguém porque não tem essa humildade. Quanto à promessa que ele fez de declarar o português como língua oficial da Guiné-Equatorial, vai acontecer o mesmo que aconteceu ao francês: é língua oficial há muitos anos e quase ninguém fala entre a população”, conclui o dirigente da oposição.
Para além de ter decretado que o seu país passa a ter a língua portuguesa como oficial, Obiang já terá convidado o primeiro-ministro português para inaugurar, na capital do país (Malabo), duas avenidas que deverão chamar-se: Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho.
Embora Obiang, como aliás os portugueses, saiba que o que hoje é verdade para o governo de Portugal amanhã pode ser mentira, é visível o desgosto que reina na comitiva do vitalício presidente da Guiné-Equatorial se, por qualquer cataclismo, o seu país não entrar na CPLP.
Consta que Obiang terá já dito aos seus conselheiros que, se não entrar, vai mandar cancelar – entre outras – a encomenda de milhares de exemplares daquela coisa a que em Portugal chamam “Magalhães”, bem como de navios aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Mais do que os “Magalhães”, para Portugal será com certeza penoso saber que as avenidas que deveriam ter os nomes de Cavaco Silva e Passos Coelho possam vir a denominar-se Eduardo dos Santos e MPLA.
Legenda: O da direita é Teodoro Obiang.
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