Para embalar o Zé Povinho diz-se que, como se alguém acreditasse, que Ricardo Rodrigues, o deputado do PS que a 30 de Abril de 2010 afanou os gravadores dos jornalistas da revista Sábado, vai ser julgado a 15 de Maio, acusado do crime de atentado à liberdade de imprensa.
A interpretação do Ministério Público é a de que o deputado roubou (ele dos que “tomou posse”) os gravadores para "obstar a que as declarações por si prestadas fossem utilizadas e publicadas".
O deputado diz que não é nada disso. Cá para mim foram os jornalistas que, à socapa, meteram os gravadores nos bolsos do deputado para o incriminar.
Em caso de condenação, que tem tantas probabilidades de acontecer como a dos camelos terem penas, Ricardo Rodrigues pode enfrentar uma pena de prisão de três meses a dois anos, ou multa de 25 a 100 dias.
É claro que o deputado não vai responder pelo crime de furto. Ou seja, a montanha nem um ratinho (mesmo que de plástico) vai parir. Vale ao menos o facto de a partir do caso Ricardo Rodrigues a criminalidade em Portugal nunca mais ter sido a mesma. Os carteiristas, por exemplo, quando são apanhados defendem-se dizendo que apenas “tomaram posse”, de forma “irreflectida”, da carteira da vítima.
Ainda me recordo que numa declaração sem direito a perguntas dos jornalistas (que pelo sim e pelo não mantiveram os gravadores a uma distância segura, não fosse haver mais alguma “irreflectida tomada de posse”), o deputado Ricardo Rodrigues anunciou, quando o caso se tornou público, que apresentou no Tribunal Cível de Lisboa uma providência cautelar contra a revista Sábado e dois jornalistas da mesma publicação.
Na Assembleia da República, o deputado socialista, acompanhado pelo então líder parlamentar, Francisco Assis, e por um outro membro da direcção do grupo, Sérgio Sousa Pinto, justificou a sua “tomada de posse” (não como deputado mas como tomador de posse de gravadores alheios) pelo “tom inaceitavelmente persecutório” das perguntas e pelos “temas e factos suscitados, falsos e mesmo injuriosos”.
Em causa, apontou, estavam perguntas relacionadas com a sua “alegada cumplicidade” com clientes que “patrocinou” enquanto advogado e que “foram condenados relativamente a factos de 1997”.
E ainda “injúrias e difamações que estão a ser julgadas no Tribunal de Oeiras”, em que são réus a SIC, a SIC/Notícias e o jornalista Estevão Gago da Câmara.
“Porque a pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológica insuportável, porque não vislumbrei outra alternativa para preservar o meu bom nome, exerci acção directa e, irreflectidamente, tomei posse de dois equipamentos de gravação digital, os quais hoje são documentos apensos à providência cautelar”, justificou Ricardo Rodrigues.
E é graças também a esta original forma de “tomar posse” do que é dos outros, que Portugal, desceu um monte de lugares no “rating" da liberdade de Imprensa.
Para quem não sabe, não quer saber ou é do Partido Socialista, recorde-se tantas vezes quantas for preciso, o que se passou a 30 de Abril de 2010.
O vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues, ficou (meteu ao bolso, furtou, roubou) com dois gravadores dos jornalistas da revista Sábado durante uma entrevista.
Questionado sobre as suas ligações a um antigo processo de burla nos Açores e a casos de pedofilia, o deputado terminou bruscamente a entrevista e levou os dois gravadores consigo.
Foi, mais uma vez, o Portugal no seu melhor! Ou, citando o então primeiro-ministro do reino, José Sócrates, mais uma demonstração inequívoca de que em Portugal não há falta de liberdade... para afanar os gravadores dos jornalistas.
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