Nada como dois reinos amigos, um que foi colonizador e hoje é pobre e maltrapilho, e outro que foi colonizado mas que agora é um potência petrolífera.
Pelos vistos, o procurador português que investigava o caso “Bes Angola” vai ingressar no Banco Internacional de Crédito (BIC), presidido pelo cavaquista Luís Mira Amaral, uma instituição de capitais luso-angolanos.
Segundo o jornal Correio da Manhã, a decisão de Orlando Figueira terá provocado (não sei bem a razão) mal-estar no Departamento Central de Investigação e Acção Penal. Isto porque, creio eu, haverá outros procuradores que até gostavam de estar na mesma situação.
Em declarações ao jornal, o magistrado confirmou que pediu uma licença sem vencimento e que vai trabalhar numa empresa do sector financeiro com ligações à Europa e a África. Ligações que, acredito, são ética, deontológica e moralmente impolutas.
Se dúvidas houvessem, e importa recordar que tanto Portugal como Angola são – entre outras variáveis – paradigmas dos países menos corruptos do mundo, o magistrado esclarece que a sua actividade insere-se no âmbito da prevenção do branqueamento de capitais.
Recorde-se, apenas para contextualizar a honorabilidade do magistrado e da justiça, que o presidente do Bes Angola, Álvaro Sobrinho, foi constituído arguido num processo de associação criminosa e branqueamento de capitais e, agora, o Procurador-Geral da República entregou o inquérito a outro magistrado.
E, já agora, relembre-se que para o presidente do BPI, banco presente em Angola desde 1996, não há corrupção no país de José Eduardo dos Santos, presidente não eleito e há 32 anos no poder.
Recordam-se de Bob Geldof afirmar que "Angola é gerida por criminosos", acrescentando que "as casas mais ricas do mundo do mundo estão baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane"?
Recordam-se que numa reacção violenta, o antigo ministro do Trabalho e Segurança Social do X Governo Constitucional (1985-1987) e ministro da Indústria e Energia do XI e XII Governo Constitucional (1987-1995), Mira Amaral, veio dizer que "qualquer pessoa que seja gestor executivo sabe o que custa fazer as coisas na prática e o tempo que levam a fazer. Quem canta músicas e depois tenta falar sobre coisas sérias, se calhar esta não é sua área específica de competência"?
Recorde-se ainda que quando questionado pelo Diário Económico (Junho de 2008) sobre a polémica à volta das declarações de Bob Geldof, Fernando Ulrich disse que as declarações "não têm sentido nenhum".
Nessa altura o BPI tinha em Angola o Banco Fomento e Angola, o seu principal activo internacional, e estava em negociações com a empresa estatal do clã Eduardo dos Santos, a Sonangol, para a venda de uma posição de 49% no BFA.
Neste contexto, Fernando Ulrich dizia que a experiência do BPI em Angola não mostrava um país corrupto (Geldof falou de um país gerido por criminosos e não de um país criminoso).
"O BPI nunca pagou nada a ninguém para obter nada em troca como nem nunca ninguém nos pediu nada para fazer o que quer que fosse em troca", disse Fernando Ulrich ao Diário Económico.
Ainda bem que Bob Geldof não é nem banqueiro nem magistrado…
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