Como bom sipaio ao serviço do regime angolano, o ministro sem pasta do Governo do MPLA (no poder desde 1975), Bento Bembe, disse à Agência Lusa o que o patrão lhe disse para dizer. Ou seja, que Luanda está a desencadear esforços para que a FLEC seja integrada na lista das organizações terroristas pela comunidade internacional.
Bento Bembe adiantou, depois de consultar o texto escrito pelos colonizadores, que este objectivo está a ser traçado perante a evidência de que a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, que reivindicou um ataque em Cabinda, atingindo membros da selecção de futebol do Togo, visa "atacar a democracia angolana escolhendo como alvo cidadãos estrangeiros e inocentes".
"São elementos que ameaçam a segurança do Estado angolano escolhendo como alvos, como foi o caso da comitiva do Togo, em Cabinda, símbolos nacionais de outros países, bem como estrangeiros que se encontram na província de Cabinda", apontou Bento Bembe.
Já no passado dia 1 de Dezembro, Bento Bembe disse que considera a Human Rights Watch (HRW) como uma organização "credível" mas com uma ideia errada do país nos dias de hoje.
E tem toda a razão. Angola nos dias de hoje é apenas aquilo que a propaganda oficial do regime do MPLA, que manda no país desde 1975, diz que é. Quem duvidar está, obviamente, errado. Angola não deve ser vista pelos olhos dos angolanos mas, isso sim, segundo a cartilha do regime, tal como há dez, vinte ou trinta anos.
Na Conferência Nacional Sobre Direitos Humanos, que decorreu recentemente em Luanda, António Bento Bembe, reagindo aos constantes alertas da HRW sobre o desrespeito pelos direitos humanos no país, afirmou que a organização "devia fazer mais cuidado com as informações que recebe" e que "poderia facilmente verificar serem falsas".
É verdade. Se há no mundo algum país que respeita os direitos humanos, esse país só pode ser Angola. Bento Bembe tem mesmo razão. É que o desrespeito que existe em força em todos os cantos e esquinas não atinge os angolanos. Sendo que angolanos só são os do MPLA...
"Nós temos mantido contactos com a HRW, encontros para abordar assuntos ligados aos direitos humanos e para explicar e aconselhar os nossos amigos dessa organização para, muitas vezes, prestarem mais atenção a informações que recebem que são falsas para não perderem a credibilidade porque esta é uma organização credível", apontou Bento Bembe.
Ninguém compreende o MPLA. E por isso é falso que a taxa estimada de analfabetismo seja de 58%, enquanto a média africana é de 38%. É falso que a malária continue a ser a causa de morte número um, seguida da tuberculose, da desnutrição, da tripanossomíase e a hipertensão.
É falso que a política habitacional seja um desastre, que a justiça esteja subserviente ao poder executivo e a corrupção esteja institucionalizada. Também é falso que ao invés de um Estado de Direito, Angola seja um Estado patrimonialista, mal governado, com um baixo índice de desenvolvimento humano, onde os jornalistas (apenas os que não escrevem a verdade oficial) ainda são presos.
É falso que mais de 80% do Produto Interno Bruto seja produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada tenha sido subtraída do erário público e esteja concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.
É falso que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos Bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos Blocos petrolíferos, esteja limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
É falso que ao invés de promover a unidade nacional, o Governo aumenta o fosso entre ricos e pobres, promova as desigualdades e institucionalize a exclusão social.
Bento Bembe, tal como uma parte do MPLA, ainda não compreendeu que há gente em Cabinda que prefere morrer à fome do que ser escravo, que prefere levar um tiro a vender a alma aos que lá vão e estão apenas para sacar as riquezas.
«Quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade no seu agir, torna-se um eterno ditador», afirmou o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, falecido em 2008, numa carta dirigida a António Bento Bembe e intitulada «A crise actual no enclave de Cabinda».
Pena foi, pena é, que Bento Bembe como exemplar sipaio saiba executar bem as ordens recebidas mas, é claro, não saiba ler...
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