sábado, janeiro 16, 2010

Portugal e Angola, amantes para sempre

Em 2008 (se calhar também os escribas contratados, tanto em Angola como em Portugal, se lembram disso) Bob Geldof disse em Lisboa que Angola é um país "gerido por criminosos".

Nada mais falso. Angola é gerida por impolutos políticos que são, aliás, um exemplo de transparência para todo o mundo. Há até quem diga que José Eduardo dos Santos é na terra o que Deus é no céu. Portanto...

A constatação de que um grupo de dirigentes do MPLA, partido que está no governo desde 1975, é dono do país e que 70% da população vive na miséria vem, apenas, mostrar que – como Deus – Eduardo dos Santos não pode estar em todo o lado ao mesmo tempo.

Precisa, aliás, de mais uns 30 anos para pôr a casa em ordem. Ou seja, esperar que esses 70% vão morrendo e que os outros vão enriquecendo.

Existe em Angola corrupção? Claro que não. Se, ao que se diz, a Europa – por exemplo – é contra a corrupção (deixem-me rir) e negoceia de braços (e outras coisas) abertos com o regime angolano é porque, obviamente, o país é um exemplo de transparência e legalidade.

Angola é anunciada aos quatro ventos, com excelente e merecido destaque para Portugal, como um paraíso. E é. É para os portugueses que ali vão sacar o deles, tal como Portugal é um paraíso para os angolanos que ali vão gastar o que roubaram ao povo.

Os poucos que em Portugal têm milhões fazem de Angola um paraíso (fiscal, económico, comercial, sexual etc.), e os seus congénres angolanos vão a Portugal fazer o mesmo. Lixados continuam os milhões de portugueses e angolanos que têm pouco, que têm cada vez menos.

Até do ponto de vista político-eleitoral, Angola começa a ser um exemplo relevante para Portugal, cabendo agora aos angolanos o papel que outrora foi desempenhado pelos portugueses: o de colonizador.

Provavelmente, como aconteceu nas eleições legislativas de Setembro de 2008 em Angola, Portugal bem gostaria de ter afluências às urnas de 108%. Querem melhor exemplo de democracia?

Do ponto de vista empresarial, enquanto os donos do país solidificam o seu direito a estar eternamente no poder através da corrupção, dos subornos, das comissões, dos paraísos fiscais, da intimidação etc., as empresas de todo o mundo fazem fila e os seus dirigentes colocam-se de cócoras para que o clã Eduardo dos Santos lhes dê a bênção.

Enquanto Portugal, e é apenas um exemplo, fecha os olhos para que Angola lhe meta dólares no bolso, os angolanos passam fome, tal como está já a acontecer em terras lusas onde 20% da população tem a pobreza dentro de casa, onde 700 mil desempregados procuram aprender a viver sem comer.

Manda, contudo, a verdade que se diga que – por muito que isso custe ao MPLA e aos seus amigos portugueses – Angola é um país corrupto, muito mal governado, mas que continua a ser tratado como se de um bom exemplo se tratasse.

2 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais Orlando, nem mais e como diz, pouco falta para estarmos nas mesmas condições.
A política, passou a ser a coisa mais nojenta que se possa imaginar...

Anónimo disse...

Orlando,

Já se passaram quase 35 anos…
Provavelmente já não te recordas de mim, o Zé Pereira do Teatro do Liceu de Nova Lisboa. O tempo engorda-nos e faz desaparecer o cabelo.
Foi com bastante alegria, quando procurava fotografias do Huambo para ilustrar o meu poema Memórias, onde aparece o teu nome, que te descobri na internet. Uma coincidência positiva. Eu vivo nos USA há cerca de 18 anos, depois de um percurso por Lisboa e pelo Alentejo, universitário e jornalístico. Fico muito triste com a cultura portuguesa actual e concordo com muitos dos teus pensamentos da presente cultura política angolana. Esta crónica está excelente: “amantes de baba e ranho de todo o tamanho.”
Sabes de notícias do Rui Moura?
Desejo¬-te as maiores felicidades pessoais, familiares e profissionais.
Um abraço
Jose Filipe Rodrigues (josefilipe7@aol.com)



Eça diria


Eça diria que as aprendizagens do estrangeiro
mostram que o segredo não está no querer chegar primeiro
no comboio das velocidades muito aceleradas.
A virtude está em ter ideias clarificadas
para decidir depressa e bem e ser capaz
de inverter esta cultura da marcha a trás,
que caracteriza os políticos gestores da nação,
plagiando ideias e obras de outros lugares,
sem perceberem que a inovação
se implementa com a soma de actos singulares.
Que adianta viajar depressa, em ritmos acelerados,
se acabamos por chegar sempre atrasados?
Eça diria que o motivo para tantos enganos
é o excesso de retórica barata
tornando-nos cada vez mais provincianos,
agora vestidos de fato e gravata.
Hoje o Adamastor afogaria estes eleitos embarcados,
que em vez de içarem velas e vencerem as afrontas,
mais parecem novos ricos, facilmente retratados
como arrogantes cabras tontas.
JFR