O presidente do Conselho de Administração da petrolífera angolana, Sonangol, Manuel Vicente, afirma que a empresa vai dispor de mil milhões de dólares (cerca de 698 milhões de euros) para ajudar a reduzir a pobreza (cerca de 70% da população) no país.
Não. É claro que não é bem isso. Aquele montante destina-se a operações a desenvover este ano, sendo que a Sonangol quer comprar tudo o que lhe apareça pela frente.
À margem da 155ª conferência extraordinária dos ministros dos Petróleos da OPEP, em Luanda, Manuel Vicente, lembrou que a empresa de petróleos estatal angolana já está no Brasil e no Iraque, onde ganhou recentemente, e em concurso internacional, a exploração de dois campos no norte do país.
Numa altura de fortes investimentos no exterior, as prioridades estão viradas para dar mais alguns milhões aos poucos que já têm muitos milhões, ficando os milhões que têm pouco ou nada em lista de espera.
O PCA da Sonangol adiantou ainda que está a avançar para o Equador, país que vai ocupar este ano a presidência da OPEP, bem como para São Tomé e Princípe.
"Já estamos no Brasil, estamos a tentar estar no Equador e em São Tomé, sim, estamos lá, mantemos uma muito boa cooperação com o Governo são-tomense e continuamos a desenvolver as nossas actividades no país", disse Manuel Vicente, orgulhoso por ser dirigente de uma empresa que pertence à face A de Angola.
A face B de Angola é bem diferente. Mas o que é que isso interessa? A comunidade internacional sabe que existe uma outra Angola, mas vende o seu silêncio em troca do petróleo.
O importante é o petróleo e não o facto de a taxa estimada de analfabetismo ser de 58%, enquanto a média africana é de 38%; e não o facto de a malária continuar a ser a causa de morte número um, seguida da tuberculose, e da desnutrição.
Todos sabem que a política habitacional também é um desastre, que a justiça está subserviente ao poder executivo e a corrupção está institucionalizada. Ao invés de um Estado de Direito, Angola tornou-se num Estado patrimonialista, mal governado, com um baixo índice de desenvolvimento humano, onde os jornalistas (apenas os que não escrevem a verdade oficial) ainda são presos.
É verdade que a economia está a crescer, mas está a crescer mal, quer na estrutura da produção interna, quer na distribuição da riqueza nacional: 76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.
A política económica em curso não garante a integração digna da juventude na sociedade, não lhe assegura o primeiro emprego e não promove o desenvolvimento descentralizado do território.
O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos Bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos Blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Aos demais, concedem-se algumas benesses desde que aceitem negar a sua identidade política ou cultural. Não se tolera a igualdade de oportunidades na distribuição da riqueza. Não se permite que, os que hoje não têm nada, venham a ser também ricos amanhã.
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