Na impossibilidade de condecorar todos os portugueses que estão a aprender a viver sem comer, o Presidente da República, Cavaco Silva, condecorou o ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes.
Cavaco considerou, aliás, que a distinção com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo cumpre "um acto de justiça".
Será? Pelos mais recentes exemplos creio que a noção de justiça de Cavaco Silva não anda de muito boa saúde. Se calhar ainda vamos um dia destes (que tal no 10 de Junho?) vê-lo a condecorar José Eduardo dos Santos por estar a meter na cadeia todos aqueles, nomeadamente em Cabinda, que pensam de maneira diferente.
"Cumpre-se aqui um acto de justiça em relação aos portugueses que serviram o país nos mais altos cargos do Governo da República, da magistratura portuguesa e dos órgãos da região autónoma dos Açores", sustentou Cavaco Silva.
Não. Ao contrário do que se possa estar a pensar, Eduardo dos Santos é um cidadão tão português quanto Santana Lopes, tendo sobre este a vantagem de ser Presidente da República há 31 anos.
E digo que Eduardo dos Santos é português porque foi isso que José Sócrates afirmou e, convenhamos, quem sou eu para duvidar das palavras do primeiro-ministro.
De facto, José Sócrates disse que a venda de parte da Galp a José Eduardo dos Santos se deveu ao facto de não querer que a empresa fosse para estrangeiros, o que faz do presidente de Angola, e do MPLA, um cidadão tão português quanto o próprio Cavaco Silva.
Numa breve intervenção, o Chefe de Estado português recordou que a condecoração "destina-se a distinguir quatro portugueses pelas altas funções públicas que desempenharam".
E, sejamos coerentes, se Santana Lopes – que exerceu as funções de primeiro-ministro desde Julho de 2004 até ao final desse ano – merece a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, quantas não merecerá aquele que está no poder há 31 anos?
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