quarta-feira, janeiro 06, 2010

E que tal aplicar em Portugal a tão elogiada (PS, PSD, CDS e PC) democracia angolana?

Mais importante do que José Sócrates ter dito que a venda de parte da Galp a José Eduardo dos Santos se deveu ao facto de não querer que a empresa fosse para estrangeiros (o que faz de presidente de Angola e do MPLA um cidadão tão português quanto Américo Amorim), é saber o que os partidos lusos pensam (se é que pensam) de Angola.

PS, PSD, CDS-PP e PCP destacaram no dia 10 de Março do ano passado, como certamente o voltarão a fazer quando for politicamente oportuno, os esforços do Presidente (não eleito) angolano, José Eduardo dos Santos, na consolidação da democracia (que se calhar até gostariam de ver transplantada para Portugal) e congratularam-se com o aprofundamento das relações entre Portugal e Angola.

As relações são mais e quase exclusivamente entre Portugal e o MPLA, entre Portugal e família dona de Angola (clã Eduardo dos Santos). Mas isso é irrevante deste que ajude a atestar os bolsos dos políticos portugueses.

Democracia angolana, digo eu, deve ser aquela coisa a propósito da qual Ana Gomes, então membro da missão de observação eleitoral da União Europeia nas segundas eleições multipartidárias, disse:

“São legítimas as dúvidas que foram levantadas por partidos políticos e organizações da sociedade civil sobre a votação em Luanda”; “Posso apenas dizer que a desorganização foi bem organizada”;“À última da hora, foram credenciados 500 observadores por organizações que se sabe serem muito próximas do MPLA”; “Parece que alguém não quis que as eleições fossem observadas por pessoas independentes”; “As eleições em Luanda decorreram sem a presença de cadernos eleitorais nas assembleias de voto e isso não pode ser apenas desorganização...”

O Bloco de Esquerda acabou por ficar isolado nas críticas à “falta de democracia” em Angola, com os restantes partidos a valorizarem os esforços do Presidente angolano para a paz e para a democracia, só faltando a indicação de que Eduardo dos Santos deveria ser proposto (sê-lo-á um dia destes) para o Nobel da Paz.

É natural. Percebo que o PSD, por ter legítimas aspirações de governo, e o PS, por ser governo, tenham uma postura de Estado e uma política típica dos que são, ou querem ser, donos da verdade e que, por isso, se identificam com todos aqueles que são donos, estejam onde estiverem.

Quanto aos outros, o PCP continua igual a si mesmo, ou não fosse um dos pais do MPLA, ou não fosse o principal responsável pelo facto do MPLA estar no poder em Angola desde 1975.

Em relação ao CDS, já lá vai e está mais do que enterrado o partido que Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Lucas Pires ou até mesmo Ribeiro e Castro ajudaram a singrar.

Em declarações aos jornalistas, o deputado do BE João Semedo criticou a “perseguição política, violação dos direitos humanos e de liberdade de imprensa” em Angola, sublinhando que aquele país tem “o mesmo presidente da República há 30 anos”.

Mas tudo isto, e o muito mais que se vai sabendo, é claro, nada significa se comparado com os dólares da Sonangol. Tão simples quanto isso.

Quanto ao resto, enquanto a Sonangol, MPLA, José Eduardo dos Santos e os seus comparsas portugueses deixarem, o Alto Hama continuará a dizer que:

- No ranking da corrupção divulgado pela Transparência Internacional, Portugal aparece na 32ª posição, Cabo verde na 47ª, Brasil na 80ª, Sao Tomé e Príncipe na 121ª, Moçambique na 126ª, Timor-Leste na 145ª, Guiné-Bissau na 158ª tal como Angola.

- Em Angola, mais de 68% da população vive em pobreza extrema e a taxa estimada de analfabetismo é de 58%.

- Em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.

- Em Angola, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

- Em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres.

- Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

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