O histórico socialista Mário Soares critica a permanência de desigualdades sociais em Portugal e a injusta distribuição da riqueza em Portugal. Mas, acrescenta, pelo menos, «já ninguém anda descalço». Não anda, pelo menos e por enquanto, por fora.
Creio que em matéria de justiça social, numa fase bem posterior à entrega de Angola ao MPLA e para a qual Mário Soares teve um contributo decisivo, o ex-presidente da República portuguesa viu que Jonas Savimbi colocava os angolanos em primeiro lugar. Há, contudo, quem diga que a aproximação à UNITA teve antes razões diamantíferas.
Num artigo de opinião publicado na revista «Visão», Soares faz, no entanto, um alerta para a falta de condições em que ainda vivem muitos portugueses: «Já ninguém anda descalço, embora haja certas categorias sociais, hoje, que passam muito mal: os desempregados por exemplo. Mas há também certos pensionistas e reformados».
Pois é. Apesar de tudo, os ventos socialistas são hoje bem diferentes. As pessoas viraram números, as causas sociais (as tais “vendidas” no 25 de Abril de 1974) foram metidas na gaveta (se calhar a mesma onde Mário Soares em tempos meteu o socialismo).
O antigo primeiro-ministro e presidente considera que Portugal tem «um défice assustador». Mário Soares foi o primeiro-ministro que, na década de 80, se viu obrigado a negociar um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), precisamente por causa de um défice orçamental da ordem dos 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso creio que, pelo menos nesta matéria, sabe do que fala.
O socialista destaca, além do défice «assustador», o «endividamento muito grande, tudo resultado da óbvia crise em que o país se encontra».
Mas Soares encerra o artigo com frases de esperança: «Já passámos por crises piores», diz. Por isso mesmo, a melhor forma de encarar a actual depressão é «com inteligência, coragem e sem complexos as crises», da qual a mais grave de todas é, na sua opinião, a da Justiça.
Os políticos também não escapam ao dedo acusador de Soares, segundo o qual confiança e bom senso são duas características que «não abundam entre alguns políticos e empresários portugueses».
Creio que é por não abundarem a confiança e o bom senso que, por exemplo, os socialistas de hoje são unha com carne com – entre outros – o regime angolano. Mas essa é outra cantiga.
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