Hosni Mubarak demitiu-se. O povo unido jamais será vencido, parecem dizer os manifestantes que, nas ruas do Egipto, tudo fizeram para que o país mudasse de rumo ou, pelo menos, de protagonistas.
Perante a criminosa conivência da comunidade internacional, para quem negociar com ditadores é bem mais fácil do que negociar com regimes democráticos, é o povo que vai saindo à rua para dizer “basta”.
E como sempre acontece quando um ditador tomba, a comunidade internacional é célere a transformá-lo em besta, mesmo que no segundo antes o considerasse bestial. Ou seja, o mundo dito democrático está sempre, mas sempre, com quem está no poder, seja ele um ditador ou um candidato a... ditador.
Os mais recentes exemplos mostram exactamente isso. Tal como mostram que o mais importante é razão da força e não a força da razão. Há muito que os povos, sejam da Tunísia, do Egipto, da Líbia, da Guiné-Equatorial ou de Angola (entre muitos outros exemplos), mostram ao mundo que a força da razão está do seu lado. Mas como isso não chega... a violência é a solução.
Embora o efeito de contágio a sul seja (por enquanto) reduzido, alguns dos ditadores estão já a pôr as barbas de molho e, pelo sim e pelo não, a cortar as ideias de protesto pela raiz.
Angola, o único país da Lusofonia cujo presidente, José Eduardo dos Santos, nunca foi eleito e já está no poder há 31 anos, aparenta calma nesta matéria de uma eventual contestação social, mas os serviços secretos do regime receberam ordens para radiografar ao pormenor todos os possíveis focos de incêndio.
Também a polícia e os militares receberam instruções para proibir e impedir qualquer tipo de manifestação, por mais inocente e inofensiva que pareça.
Sabendo que a juventude é, por regra, o motor dos protestos, o MPLA está a montar um ainda mais apertado controlo das organizações juvenis dos outros partidos, bem como dos jovens em geral.
Há poucos dias, por exemplo, o porta-voz da Polícia Provincial de Luanda, superintendente Jorge Bengui, disse que os agentes da Polícia não prenderam o secretário-geral da JURA (organização da juventude da UNITA), Mfuka Fuacaca Muzemba e os seus acompanhantes, explicando que os levaram até à esquadra para lhes ensinarem algumas leis e procedimentos legais.
Na altura, os jovens encontravam-se concentrados junto da Assembleia Nacional, para uma manifestação pacífica, que previa a distribuição de panfletos que protestavam contra o dia 14 de Abril, que consagra o dia da juventude do MPLA, em memória de Hoji Ya Henda, o patrono da JMPLA.
Eduardo dos Santos sabe que, muitas vezes, um só fósforo é suficiente para atear um incêndio em todo o país. E como não brinca em serviço, resolveu fazer pedagogia também junto de líderes políticos, religiosos e sociais, dizendo-lhes (ou mandando dizer) que, para o regime, só conta a razão da sua força.
Aliás, por ter hasteado um bandeira da UNITA na sua aldeia, um militante foi preso. Acrescente-se que o secretário para a Informação do MPLA (partido no poder desde 1975), Rui Falcão, disse que o protesto da UNITA contra a detenção de um militante no Huambo deve-se à "falta de um projecto político, de um programa".
O dirigente político e deputado do MPLA referiu, em declarações à Rádio Eclesia, que falar de "intolerância política" e fazer uso de "discursos incendiários" trazem sempre "dissabores".
Rui Falcão reagia à greve de fome iniciada na segunda-feira pelo secretário-geral da UNITA, Abílio Kamalata Numa, na província angolana do Huambo, onde um militante do partido foi detido.
E assim se faz a história. Os donos do mundo vão cantando e rindo, jogando em todos os tabuleiros, apoiando os ditadores enquanto for conveniente, fazendo-se de santos quando eles tobam, ajudando candidatos e ditadores... e apoiando militarmente todos os que necessitarem.
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