Em entrevista à TSF e ao DN, Luís Amado, o ministro dos Negócios Estrangeiros do reino socialista a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos, indicou que se houvesse avaliação com base nas “condições democráticas” de cada país, Portugal “não tería relações com muitos países”.
Tem toda a razão, como aliás é natural em todos aqueles (socialistas, obviamente) que são, entre outras coisas, donos da verdade. Por alguma razão é mais fácil negociar com ditaduras, como é o caso de Angola, do que com regimes democráticos.
Na verdade, com as ditaduras é mais barato corromper sempre os mesmos. Daí a vantagem de a Europa, por exemplo, querer implantar em todo o lado apenas simulacros de democracia.
Luís Amado entende que não se pode desenvolver relações diplomáticas com base nas “condições democráticas de cada país” e lembra que Portugal tomou a mesma posição que outros países no que toca à Líbia.
Ou seja, os ditadores são bestiais enquanto estiverem no poder. Quando forrem derrubados passam a bestas. Há quem chame a isto imoralidade, falta de ética e hipocrisia. Mas esses são uma espécie em vias de extinção.
Relativamente ao desenvolvimento da relação bilateral com o regime de Muammar Kadhafi, Portugal adoptou a mesma posição que “muitos países europeus que hoje têm muitos interesses na Líbia”.
Ou seja, mais do que a democracia, os direitos humanos, o importante é o petróleo, nem que em vez de ouro negro seja mais ouro vermelho... de sangue. Não está mal, não senhor!
“A Líbia é um país rico em petróleo. A Galp compra muito petróleo à Líbia, precisamente porque o petróleo líbio tem uma qualidade que o favorece muito no aproveitamento das nossas siderurgias”, acrescentou o ministro, convicto de que nas relações comerciais vale tudo, até mesmo tirar olhos aos que são explorados para as ditaduras continuarem no poder.
Quando o governo português reconheceu formalmente a independência do Kosovo, Luís Amado, disse que "é do interesse do Estado português proceder ao reconhecimento do Kosovo".
O ministro apontou quatro razões que levaram à tomada de decisão sobre o Kosovo: a primeira das quais é "a situação de facto", uma vez que, depois da independência ter sido reconhecida por um total de 47 países, 21 deles membros da União Europeia e 21 membros da NATO, "é convicção do governo português que a independência do Kosovo se tornou um facto irreversível e não se vislumbra qualquer outro tipo de solução realista".
Deve ter sido o mesmo princípio que, em 1975, levou o Governo de Lisboa a reconhecer o MPLA como legítimo e único governo de Angola, embora tenha assinado acordos com a FNLA e a UNITA. O resultado ficou à vista nos milhares e milhares de mortos da guerra civil.
Como segunda razão, Luís Amado referiu que "o problema é político e não jurídico", afirmando que "o direito não pode por si só resolver uma questão com a densidade histórica e política desta". Amado sublinhou, no entanto, que "não sendo um problema jurídico tem uma dimensão jurídica de enorme complexidade", pelo que "o governo português sempre apoiou a intenção sérvia de apresentar a questão ao Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas".
Vejamos um exemplo da Lusofonia. Cabinda (se é que os governantes portugueses sabem alguma coisa sobre o assunto) também é um problema político e não jurídico, “embora tenha uma dimensão jurídica de enorme complexidade”.
"O reforço da responsabilidade da União Europeia", foi a terceira razão apontada pelo chefe da diplomacia portuguesa. Luís Amado considerou que a situação nos Balcãs "é um problema europeu e a UE tem de assumir um papel muito destacado", referindo igualmente que a assinatura de acordos de associação com a Bósnia, o Montenegro e a Sérvia "acentuou muito nos últimos meses a perspectiva europeia de toda a região".
No caso de Cabinda, a União Europeia nada tem a ver. Tem, no entanto, a CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) onde – desculpem se me engano – Portugal desempenha um papel importante.
O ministro português frisou ainda que Portugal, ao contrário dos restantes países da UE que não reconheceram o Kosovo, não tem problemas internos que justificassem as reticências. Pois. Os que tinha (Cabinda é, pelo menos de jure, um problema português) varreu-os para debaixo do tapete.
Como última razão, indicou a "mudança de contexto geopolítico que entretanto se verificou" com o conflito entre a Rússia e a Geórgia e a declaração de independência das regiões georgianas separistas da Abkházia e da Ossétia do Sul que Moscovo reconheceu entretanto.
Isto quer dizer que, segundo Lisboa, no actual contexto geopolítico, Cabinda é Angola. Amanhã, mudando o contexto geopolítico, Portugal pensará de forma diferente. Ou seja, a coerência é feita ao sabor do acaso, dos interesses unilatreiais.
Luís Amado, tal como o Governo e restante companhia parlamentar, entende que são os políticos (seres onde a existência de coluna vertebral é opcional) os donos da verdade.
E quando assim é, a diferença entre ditadura e democracia é muito, mas muito, ténue.
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