As autoridades líbias, que é como quem diz Muammar Kadhafi, convocaram um representante da União Europeia em Tripoli e ameaçaram parar de cooperar na luta contra a imigração ilegal se a UE continuar a "encorajar" manifestações no país, anunciou hoje a presidência húngara.
A Líbia tem aliás, outros trunfos na manga. E Kadhafi não manda dizer o que de facto quer. Diz ele próprio. Recordam-se daquilo que o líder líbio disse do TPI – Tribunal Penal Internacional? Disse apenas que esse tribunal representa “uma nova forma de terrorismo mundial”.
“É conhecido que todos os países do terceiro mundo se opõem a este denominado Tribunal Penal Internacional. A menos que todos sejam tratados de forma igual, isso não funcionará”, declarou Kadhafi, na altura presidente da União Africana.
“É o caso agora. Esse tribunal é contra os países que foram colonizados no passado e que (os ocidentais) querem voltar a colonizar. Trata-se da prática de um novo terrorismo mundial”, considerou.
“Não é justo que um presidente seja detido”, precisou o líder líbio que se referia ao mandado de captura emitido a 4 de Março de 2009 pelo TPI contra o presidente sudanês, Omar el-Béchir, por suspeita de crimes de guerra e crimes contra a humanidade no Darfur, oeste do Sudão.
“Se autorizarmos uma tal coisa, que um presidente seja detido e julgado, como o presidente el-Béchir, deveríamos também julgar aqueles que mataram centenas, milhões de crianças no Iraque e em Gaza”, sublinhou o responsável líbio.
Voltemos à actualidade. Todos os representantes europeus em Tripoli receberam a mesma mensagem que, desde logo, é um protesto contra o apelo feito na quarta-feira pela chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, ao respeito da "livre expressão" no país, confrontado com uma vaga de contestação sem precedentes desde a chegada ao poder de Muammar Kadhafi, há mais de 40 anos.
As manifestações que ocorrem desde terça-feira na Líbia têm sido reprimidas com violência e já causaram pelo menos 173 mortos, segundo a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, que cita fontes hospitalares.
Seja como for, Kadhafi sempre mostrou o que era, o que é e o que quer ser. Já em 2001, o líder da Líbia apresentou a solução (eventualmente, admito, retirada dos manuais do MPLA) para o problema do Zimbabué e de todos os países africanos. Nada mais do que expulsar todos os brancos de África e ocupar as suas terras.
Kadhafi, que nesse ano visitou o Zimbabué, exortou os zimbabueanos negros e os africanos em geral a correrem com os brancos do continente e a só pararem se estes aceitarem transformar-se em criados. Nem mais, nem menos.
Recorde-se que, em 2001, cerca de 1.700 fazendas pertencentes a brancos foram ocupadas desde que Mugabe exortou os chamados antigos combatentes a ignorarem a lei e as ordens dos tribunais e a apropriarem-se de terras.
O executivo zimbabueano já tinha então referenciado para nacionalização sem compensação cerca de 5.000 fazendas de brancos (95% do total).
(Consta, entretanto, que o executivo socialistas de José Sócrates terá solicitado a Kadhafi uma ajuda técnica para resolver a crise portuguesa. O líder líbio terá sugerido que só tivessem direito a uma vida digna os que fossem filiados no partido....)
E, já agora, recorde-se que o programa em Portugal do coronel Kadhafi, o proprietário e único accionista da Grande Jamahiriyah Socialista Popular da Líbia Árabe (ou coisa que o valha) não se limitou à então Cimeira UE/África.
Dólares e euros continuaram, como continuam, a ser mais importantes e, por isso, aproveitou a presença na capital do reino do seu amigo José Sócrates para tratar de negócios no caso, entre outros parceiros, como a Galp, Cimpor e Visabeira.
Na sua libiana tenda, instalada no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, Kadhafi recebeu a visita da comunidade africana residente em Portugal. Assim, por exemplo, lá estiveram elementos de Angola criteriosamente seleccionados. Ou seja, os que eram afectos ao MPLA.
“Se ontem e hoje fui bestial, não quero amanhã ser besta”, parece pensar Muammar Kadhafi. E pensa bem.
Legenda: Muammar Kadhafi é o da... direita
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