Hoje seria politicamente correcto falar da madrugada de 4 de Fevereiro de 1961, quando um grupo de guerrilheiros do MPLA lançaram em acções violentas na cidade de Luanda atacando simultaneamente a casa de reclusão militar, a cadeia de São Paulo, a estação de rádio e as esquadras policiais.
Mas, para mim, à revelia dessa suposta regra, escrevo sobre uma das mais execráveis fuguras portuguesas, de seu nome António Almeida Santos, e também daquela vergonhosa coisa a que deram o nome de Acordo de Alvor.
O Acordo de Alvor, que permitiu – como estava progranado – a entrega de Angola ao MPLA e a anexação por esta de Cabinda, representa – segundo disse o próprio Almeida Santos, um dos signatários - apenas "um pedaço de papel" que "não valeu nada".
Este político socialista, presidente do PS e flutuador nato da política portuguesa, que defende ideais de Esquerda mas prefere viver à Direita, tem razão.
Almeida Santos, tal como a restante equipa portuguesa, sabia à partida que o Acordo de Alvor só valeria se o MPLA não ficasse no Poder. Como ficou...
O dirigente socialista, que a 15 de Janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Interterritorial e integrava a delegação portuguesa que assinou com os líderes dos três movimentos de libertação de Angola o Acordo de Alvor, no Algarve, referiu que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
Nem a idade faz Almeida Santos falar verdade. Aliás, a nível de dirigentes socialistas, como hoje se vê pelo exemplo de José Sócrates, contam-se pelos dedos de uma mão amputada os que falam verdade.
“Aquilo não resultaria”, como não resultou, porque Portugal viciou as regras do jogo no sentido de dar o Poder a uma das partes, o MPLA, sem esquecer que era necessário correr à força com os portugueses de Angola e depois, como defendia Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho, entre outros, metê-los no Campo Pequeno já que – dizia Mário Soares – eram um fardo pesado.
Se o valor do Povo português se medisse pelo nível dos políticos portugueses que assinaram o Acordo de Alvor, não há dúvidas de que Portugal há muito era uma província espanhola (a Ibéria tão desejada por José Saramago).
"Do Acordo de Alvor sou apenas um escriba, não sou mais do que isso", diz Almeida Santos (que foi Ministro da Coordenação Territorial em quatro governos provisórios, ministro da Comunicação Social, da Justiça, de Estado, candidato a primeiro-ministro, presidente da Assembleia da República), mentindo mais uma vez ao dizer que Portugal não teve outra alternativa, senão assinar por baixo.
Para mim, Almeida Santos é mais um dos muitos políticos que traiu, na circunstância, muitos portugueses e muitos angolanos, desonrando a Pátria que dele fez um alto dirigente, sem saber bem como.
Mas de uma coisa Almeida Santos, tal como Costa Gomes ou Rosa Coutinho, pode estar certo: - nunca será amaldiçoado pelos portugueses e pelos angolanos que amam Angola.
Todos eles detestam estar em longas filas.
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