O regime angolano continua, perante a passividade internacional, a cumprir as suas metas ditatoriais. Numa primeira fase matou Jonas Savimbi e pôs de joelhos a UNITA. Outras estão em marcha.
Mas a tarefa de eternização do MPLA no poder não está, obviamente, concluída. Continua a ser necessário fingir que há democracia e, ao mesmo tempo, apagar os fósforos acesos que tendem a transformar-se em incêndios.
Para além de uma caçada interna às bruxas (há, na óptica do regime, gente a mais a dar palpites e a ameaçar o trono), importa fazer o Galo Negro baixar a crista e calar os que, na sua colónia de Cabinda, continuam a achar-se no direito de pensar de forma diferente do regime.
A limpeza (sinónimo de prisão e morte) dos angolanos de segunda, os tais a quem Kundi Paihama chamou de kwachas, reflecte apenas o que já se esperava a partir do momento em que a UNITA se rendeu. É certo que se rendeu para deixar de comer farelo, mas agora está à vista o que lhe vai acontecer.
Pouco satisfeitos no seio da UNITA andam os seus ex-militares das FALA que, ao contrário do que diz o regime, não eram só o exército da UNITA. Eram, note-se, as Forças Armadas de Libertação de Angola.
O regime prometeu, garatiu e assumiu o que raramente está a cumprir. Ou seja, a integração de facto e de jure dos militares das FALA nas Forças Armadas de Angola a coberto dos Acordos de Paz, como pressuposto do Processo de Reconciliação Nacional selado pelo Protocolo de Lusaka e pelo Memorando do Luena.
Convicto de que do ponto de vista militar a UNITA já nada significa, o que – se calhar – até é mesmo verdade, o regime de José Eduardo dos Santos vai apertando os seus tentáculos de modo a que, do ponto de vista político, os dirigentes do Galo Negro tenham total de liberdade... para estar de acodo com a ditadura do MPLA.
A UNITA, que nestas coisas é um partido ingénuo, esqueceu um, mais um, dos mandamentos do Mais Velho: a paz só se negoceia quando se tem capacidade para fazer a guerra.
Restando-lhe apenas a capacidade política e financeira que o regime lhe quer, ou não, dar, a UNITA continua de mão estendida à espera das esmolas. É claro que, se Angola fosse um Estado de Direito, tudo seria diferente. Mas como não é...
Mesmo assim, de vez em quando o Galo Negro mostra que quer voar e, aqui e ali, até voa durante alguns metros. E é essa tentativa de voo que o regime não permite. Diz o MPLA, e diz bem, que galo que voa um metro vai acabar por conseguir voar muitos metros.
E para que isso não aconteça, o regime tem um grupo específico de agentes militares, dotados de todos os meios tecnológicos e financeiros, para controlar ao milímetro todas as movimentações e contactos dos principais dirigentes da UNITA.
Qualquer passo em falso poderá ser fatal. É que, como no passado, a UNITA também tem no seu seio quem esteja mais interessado no seu umbigo do que nos problemas do país e do Povo. Isso significa que podem estar dentro apenas a cumprir as ordens dadas (e bem pagas) de fora.
Acresce que, num país cheio de minas, um dia deste o mundo vai ter a notícia de que uma viatura oficial da UNITA explodiu ao passar por cima de uma delas. É só esperar. O MPLA não brinca em serviço.
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