A taxa de desemprego em Portugal atingiu os 11,1% no último trimestre de 2010, o valor mais alto de que há registo. O mais alto... até agora. Apesar disso, o país continua a cantar e a rir... a bem da nação socialista.
Faz amanhã um mês, o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, Valter Lemos, admitiu que "o pior do desemprego (10,6%) já passou", destacando a redução do número de desempregados em Dezembro, face ao mês anterior.
Valter Lemos disse que os dados então revelados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) "parecem indicar que o pior do desemprego já passou", referindo que a situação deverá melhorar nos próximos meses.
Como se vê, apenas passou de 10,6% para 11,1%. Passou, apenas, a ser o valor mais alto de que há registo.
As declarações do secretário de Estado do Emprego surgiam há um mês depois de o IEFP ter revelado que o número de desempregados em Portugal recuou 0,9 por cento em Dezembro face a Novembro, apesar de ter aumentado 3,3 por cento em termos homólogos.
Ou seja? Os portugueses continuam lixados e mal pagos. Mas é verdade que o primeiro-ministro das ocidentais praias lusitanas a norte (embora cada vez mais a sul) de Marrocos, José Sócrates, sempre que fala ou quer dançar o tango, garante que o Governo usará todos os recursos ao seu alcance para auxiliar empresas, trabalhadores e famílias.
E sempre que o diz todos dormem mais descansados. De barriga vazia... mas descansados.
Se José Sócrates o diz é porque assim vai ser. Não sei se tal se conseguirá através de menos despedimentos, se por meio de mais um cobertor para os sem-abrigo ou, quiçá, através da oferta de uma ficha de filiação no PS.
Recordam-se da mensagem de Natal de 2008, que se fosse levada a sério teria dado à RTP um estrondoso pico de audiências, em que José Sócrates teve uma conversa em família ao estilo de Marcelo (Caetano)?
O primeiro-ministro sublinhou então que o ano de 2009 ia ser "difícil e exigente para todos" (isto é como quem diz... sempre para os mesmos), razão pela qual o dever do seu Governo era "não ficar à espera que os problemas se resolvam por si próprios". Foi então que resolveu aumentá-los.
"Pela minha parte, e pela parte do Governo, quero garantir-vos que não temos outra orientação que não seja defender o interesse nacional neste momento particularmente difícil. E defender o interesse nacional é usar todos os recursos ao nosso alcance, com rigor, sentido de responsabilidade e iniciativa, para ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades, e para incentivar o investimento económico que gera riqueza e emprego", disse então José Sócrates.
Digam lá que o homem não fala bem? É claro que não sabe o que diz e nem diz o que sabe. Se assim não fosse diria, desde logo, que o Governo iria responsabilizar, por exemplo, os empresários que, devido à suposta generalização da crise, contratam directores para descobrirem a melhor forma de porem as suas empresas também em crise.
Além da garantia de acção perante a crise, usando para tal todos os meios possíveis ao alcance do Estado, José Sócrates pretendeu também deixar uma mensagem de "esperança" em relação ao futuro e de "confiança" face aos próximos desafios resultantes da "grave crise económica e financeira" mundial.
Foi no Natal de 2008. Uma mão cheia de nada. Muitos portugueses estavam nessa altura como estão hoje e estarão nos próximos anos. Isto é, estão como o tolo no meio da ponte. Não sabem para que lado devem ir. E é nessa altura que descobrem que afinal nem ponte existe.
Sócrates frisou que "os portugueses podem contar com a determinação do Governo" no presente "momento difícil da Europa e do mundo". Podem contar para quê? Para andarem no TGV? Para voarem para o novo aeroporto da capital? Ou para terem forma de pagar a casa e ao merceeiro?
"Determinação no apoio à economia. Determinação, também, na defesa e na promoção do emprego. Mas, determinação, sobretudo, na protecção das famílias, especialmente às famílias de menores rendimentos, protegendo-as das dificuldades que sentem e ajudando-as nas suas despesas principais", acrescentou Sócrates. Recordam-se?
E depois das palavras, Sócrates volta a olhar para o lado e a assobiar, dizendo que são as regras de uma economia de mercado.
"Foi por isso que criámos as condições para que baixassem os juros com a habitação, generalizámos o complemento solidário para idosos, protegemos as poupanças, aumentámos o salário mínimo e actualizámos os salários da função pública acima da inflação", disse, ainda e nessa altura Sócrates em referência a medidas tomadas pelo Governo.
Disse e é verdade. Mas o cerne da questão não está na justeza (embora por cumprir) de apoiar quem mais precisa. Está no facto de permitir que poucos tenham milhões à custa de milhões que pouco ou nada têm. De milhões que cada vez têm menos.
"O país precisa de atitude, de empenhamento e de determinação", salientou José Sócrates. Será que ninguém diz ao primeiro-ministro que nada disso é possível num país onde o primado da competência foi substituído pelo da subserviência? Ninguém lhe diz que a bajulação vale muito, muito mais, do que o profissionalismo?
Ninguém lhe diz que o país valoriza quem não erra, esquecendo-se de verificar que os que não erram são os que nada fazem? Ninguém lhe diz que entre um competente e um néscio com uma boa cunha, ou cartão do partido, o país escolhe o néscio?
Seja como for, o presente é, ou parece ser, de todos aqueles que às segundas, quartas e sextas são do PS, às terças, quintas e sábados do PSD e ao domingo negoceiam com o CDS, com o BE e com o PCP.
Pelo meio deste circuito aparecem, sobretudo quando as eleições alteram algumas moscas, velhos sipaios de farda nova que acalentam a esperança de serem chefes de posto.
Tal como os chefes de posto, também com nova indumentária, querem algo mais pelos altos serviços prestados a bem da nação. Querem e conseguem, mesmo que no lugar da assinatura da filiação partidária tenham de pôr a impressão… digital.
Numa coisa, reconheço, José Sócrates tem razão. Agora não são exactamente os mesmos a pagar a crise. Ou seja, são os mesmos de sempre e mais uns milhares que até agora tinham escapado. Do outro lado, aí sim, continuam sempre os mesmos (banqueiros, administradores, gestores, directores, empresários, deputados, ex-ministros, assessores etc.).
E a vida tem destas coisas. Depois admirem-se que entre uma ditadura de barriga cheia e uma democracia com ela vazia, os portugueses não tenham dúvidas em escolher. E, note-se, já há muita gente que nem sabe se tem barriga...
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