O MPLA, o regime angolano, Eduardo dos Santos (são uma e a mesma coisa) parecem não estar muito preocupados com a anunciada manifestação agendada para o dia 7 de Março. As suas forças no terreno (militares, polícias, serviços secretos e conselheiros estrangeiros) dizem que a montanha nem um rato vai parir.
À comunidade internacional o MPLA assegura que está a fazer tudo para reforçar o Estado Democrático e de Direito e garantir aos angolanos a construção de uma pátria em que cada um se reveja e sinta prazer em viver.
Dizem igualmente os donos do poder desde a independência em 11 de Novembro de 1975, que o processo de reconciliação nacional continua a decorrer de forma sólida o que, na avaliação do regime, permite que os angolanos acreditem no futuro e na sua paulatina melhoria das condições de vida.
Acrescenta igualmente o regime, comandado por um presidente (Eduardo dos Santos) não eleito e há 31 anos no poder, que a paz tem permitido aos angolanos o usufruto do direito a segurança, a estabilidade e a livre circulação em todo o território nacional.
Por outro lado, ainda segundo os vencedores, a paz tem facilitado o processo de reconstrução e de criação de infra-estruturas para o desenvolvimento, o que tem sido constatado de forma entusiasta por todos os clientes, não tanto pelos angolanos (digo eu).
Esta confiança, diz o MPLA, assenta na convicção de que os angolanos serão capazes de reconstruir a Pátria, propiciando a criação de condições que permitam erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento e o bem estar dos angolanos.
Há nove anos que o MPLA deixou de ter desculpas. Diz, contudo, que é pouco tempo. Diz também que o facto de estar há 36 anos no poder não conta porque a maior parte desse tempo o país esteve em guerra.
Então, sem guerra e com o petróleo a jorrar por todos os cantos e esquinas, quantos mais anos serão precisos para que, entre outras coisas, a maioria dos angolanos deixe de viver na miséria?
O MPLA não diz quantas mais décadas serão precisas para os angolanos deixarem de viver na miséria. Creio, contudo, que serão precisos muitas e muitas. Se, em nove anos, o MPLA ainda não conseguiu dar os primeiros passos para integrar os angolanos de segunda (todos os kwachas)...
“O nosso coração não pode estar em paz enquanto virmos irmãos sofrerem por falta de alimento, de trabalho, de um tecto ou de outros bens fundamentais", disse o Papa, na cerimónia de despedida no aeroporto de Luanda. Ninguém do MPLA conseguiu perceber o que o Papa disse...
Demore o tempo que demorar, o MPLA terá sempre (ou pelo menos enquanto estiver no poder) a solidariedade de Portugal. Creio, aliás, que o MPLA possui algum tipo da kazumbiri que tolda a inteligência dos políticos portugueses. Ou é apenas uma questão de dólares, de macro-economia, de Sonangol e similares (Eduardo dos Santos & Família SA)?
De facto, como há já alguns anos dizia o Rafael Marques, os portugueses (bem como a cumunidade internacional) só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos humanitários.
Custa a crer, mas é verdade que os políticos portugueses (há, é claro, excepções) fazem um esforço tremendo (certamente bem remunerado e distante de qualquer operação “face oculta”) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas.
É por isso que ninguém recorda a José Sócrates ou Cavaco Silva que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.
Ninguém recorda que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico.
Ninguém recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.
Ninguém recorda que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Ninguém recorda que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino.
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