O primeiro-minitro português, José Sócrates, prefere ser morto pelo elogio do que salvo pele crítica. Está no seu direito. Não há nada que os socialistas possam fazer. Sócrates rodeou-se de muita gente menor e, como seria de esperar, está agora a ver que para ter à sua volta quem está sempre de acordo bastaria a sua própria sombra.
Não faltaram avisos mas, como sempre acontece a quem julga ser o dono da verdade, alguns dos seus fiéis e supostos amigos vão ser os primeiros a tirar-lhe o tapete. Sempre assim foi, sempre aasim será. Seja no PS ou no PSD.
A questão escaldante da falta de liberdade de imprensa foi a cabal demonstração de que Sócrates tinha, e tem, à sua volta muita gente que está sempre na primeira linha para lhe estender a mão quando tropeça numa pedra. No entanto, o que ele precisava era de quem tirasse as pedras antes de ele passar.
Está absolutamente demonstrado que só os poderes enfraquecidos perseguem a imprensa e, por outro lado, está igualmente demonstrado que nem por isso se tornam mais robustos e que, ao contrário, acabam quase sempre por se declarar vencidos. Só os poderes enfraquecidos temem a imprensa, desde logo porque a imprensa não é para temer.
Não. A frase não é da minha autoria nem de um qualquer assessor de imprensa do governo, ou administrador socialista de uma empresa pública ou assim-assim. O autor é João Pinheiro Chagas, um português que nasceu em 1863 e morreu em 1925.
Com este cenário, José Sócrates começa a ver alguns dos seus mais próximos colaboradores falarem da sua sucessão. Outros falam sem que se ouça. Muitos pensam mas não falam.
Tivesse Sócrates lido e pensado no que disse, em Janeiro de 2008, à Visão, o ex-secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, e se calhar não estaria agora a começar a ser apunhalado pelas costas por um alguns dos seus supostos amigos.
Ferro Rodrigues disse nessa altura que o Governo português deveria ter “menos arrogância e mais humildade”.
Aliás, como bem sabe Ferro Rodrigues até por experiência própria, basta um pequeno sinal de água para que a maioria dos ratos socialistas abandone imediatamente o navio.
Sobretudo, mas não só, com José Sócrates o primado da competência foi engavetado, os empregos foram dados a supostos amigos, foi esquecido o princípio de que é preferível ter um adversário inteligente a um amigo estúpido, atolaram a máquina do Estado (onde se incluem muitas empresas) com amigos que para contarem até 12 (mesmo com recurso ao Magalhães) têm de se descalçar.
Curioso é, ainda, ver como alguns socialistas (e alguns sociais-democratas) continuam a julgar que são uma solução para o problema quando, de facto, são um problema para a solução.
Por alguma razão Ana Gomes, João Cravinho ou Vera Jardim até falaram das escutas do processo Face Oculpa, e o próprio António Costa já fala de que o PS tem "boas soluções" no que toca à sucessão a José Sócrates.
Ana Gomes chega ao ponto de escrever que é "o Estado de direito democrático que pode estar em causa", recusando-se a "varrer para debaixo do tapete as questões que tais escutas suscitam".
"Se por qualquer hipótese [José Sócrates] deixar de o ser, o PS tem no Governo e na Assembleia da República boas soluções que asseguram a continuidade institucional do seu mandato," afirmou ao jornal i o actual presidente da Câmara de Lisboa.
Por sua vez, João Cravinho diz que o Governo tem de "provar e convencer os portugueses de que as suspeitas que estão a transformar o País num pântano não têm razão de ser" e o deputado Vera Jardim considera que "é urgente que se faça luz sobre isto” porque “este clima não é sustentável."
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