A jornalista Louise Redvers, do jornal sul-africano Mail and Guardian, contactou-me – por escrito – solicitando respostas para as perguntas que entendeu fazer, tendo como motivo principal a situação na colónia angolana de Cabinda.
As respostas não foram publicadas. Diz a jornalista que não se tratou de censura mas de falta de espaço. Não está mal.
Depois da portuguesa RDP/África, também os sul-africanos fazem o que o soba José Eduardo dos Santos manda. O curioso da questão, para além da inequívoca influência do regime angolano em muitos órgão de informação, é que antes da explicação de Louise Redvers já alguém do MPLA me tinha dito “que as respostas dadas ao Mail and Guardian nunca seriam publicadas”. E assim aconteceu.
Ficam contudo aqui as perguntas e as respostas às questões postas pelo jornalista Louise Redvers, do Mail and Guardian, ficando as conclusões ao critério dos leitores.
Escreveu sobre o facto que “Vários jornalistas que trabalham fora de Angola foram e estão a ser contactados por mandatários do regime angolano. Voce pessoalmente foi contactado?
- Sim, fui contactado (o que, aliás, já aconteceu outras vezes) por diversas pessoas e por variadas formas (telefone, mails e pessoalmente) no sentido de deixar de escrever - a bem ou a mal - sobre Cabinda. Ou melhor, no sentido de deixar de escrever que o povo de Cabinda, tal como os timorenses ou os do Sahara Ocidental têm direito a escolher o seu futuro.
Pode dar nomes de outras jornalistas em quais pais que foram contactos?
- Esses colegas de jornais de Lisboa preferem, por razões de segurança, não se manifestarem. Esperam, legitimamente, uma melhor oportunidade para contarem o que passaram e que, em síntese, foi algo muito semelhante ao que se passou comigo.
No sua opinão, será possível para silenciar as vozes sobre Cabinda?
- É possível silenciar, nomeadamente em Portugal, todos aqueles que não escrevem o que o regime angolano quer em relação ao que eu chamo de colónia de Cabinda. Veja, por exemplo, quantas notícias foram publicadas sobre a prisão de professores em Cabinda, sobre a prisão por algumas horas do Padre Congo, ou há mais tempo sobre o lançamento – em Lisboa e no Porto – do livro de Francisco Luemba, hoje detido em Cabinda. Poucas ou nenhumas. O silêncio é total.
Acha essa última repressão está ligado ao ataque da FLEC este mês?
- Está liga ao ataque da FLEC (também quase silenciado na Imprensa portuguesa), mas sobretudo a uma estratégia do regime angolano de querer acabar de uma vez por todas com a questão de Cabinda. E se o regime acredita (e talvez tenha razão) que do ponto de vista militar conseguirá acabar com a resistência, do ponto de vista político será mais difícil. Daí a estratégia de silenciar todos os que queiram falar do assunto.
E por fim, a causa da nova lei de seguranca (ainda ser promulgada) – você acha que poderá ser uma amnistia das presos em Cabinda?
- Não. Não acredito. O regime angolano que é liderado há 31 anos por um presidente não eleito (José Eduardo dos Santos), continua a entender que a razão da força é mais importante do que a força da razão. E por isso tudo fará, tudo está a fazer, para silenciar todos os que – mesmo em Angola – pensam de maneira diferente.
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