Depois de uma sessão sobre "jovens e política" numa escola secundária em Almada, o líder do Bloco de Esquerda invocou a música dos portugueses Deolinda e apelou ao fim de uma "economia parva, onde para ser escravo é preciso estudar".
Francisco Louçã usou a música "Parva que sou", dos portugueses Deolinda, de que já se disse ser um "hino do precariado", e falou pop, dos jovens e para os jovens: "Talvez a maior urgência seja a de acabarmos com uma economia parva que faz com que para ser escravo seja preciso estudar. E se a canção o diz, a realidade sublinha-o", disse.
Ainda não há muito tempo (foi no dia 29 de Janeiro), o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, disse, em Braga, que "o grande projecto" para Portugal é a aposta na educação, "porque é o investimento mais importante na afirmação de um país".
Como muitas outras coisas, o que José Sócrates diz não é para levar a sério. Desde logo porque o que ele diz às segundas, quartas e sextas é desmentido por ele próprio às terças, quintas e sábados.
Contudo, ao contrário de Louçã, Sócrates tem, mais uma vez e como sempre, razão. Razão que, aliás, é corroborada pelos 700 mil portugueses que estão desempregados mas que são (bem) educados, pelos 20 por cento que estão de forma muito (bem) educada na miséria, bem como pelos outros 20 por cento que já olham, mas sempre de forma muito (bem) educada, para os pratos vazios.
Eu sei que para José Sócrates, e mais uma vez bem, ter um diploma não significa ser educado e ter direito a fazer parte desse nobre espírito socialista que representa a grande aposta.
A taxa de desemprego entre as pessoas com habilitações superiores mais do que duplicou desde 2002 e hoje são bem mais do que 60 mil os que não conseguem um lugar no mercado... de trabalho, por muito bem educados que sejam.
Não admira por isso que, fartos de esperar por um emprego de acordo com as suas habilitações, os jovens façam o mesmo que Mário Soares fez em tempos com o socialismo. Ou seja, metam o diploma numa gaveta e procurem sobreviver como motoristas de táxi, como “embrulhadores” de compras numa loja de um qualquer centro comercial ou como autómatos nos call-centers.
"Aqui está o grande projecto nacional. Esta época vai ficar marcada pela aposta na educação", afirmou hoje José Sócrates a propósito do projecto de modernização das escolas secundárias que prevê a requalificação 313 estabelecimentos, num investimento global de 2,9 mil milhões de euros.
Até parece que a solução está na requalificação física das escolas e não na requalificação do país e, é claro, dos que têm responsabilidade políticas na gestão da coisa pública.
"Este é um país que aposta tudo na educação. Este é um projecto de muita ambição para o país e é a aposta maior na educação de que há memória", reafirmou o primeiro-ministro, sublinhando que é "uma aposta de conjunto, que vai do pré-escolar ao ensino secundário".
Pois é. A tradução do que o primeiro-ministro disse, com ou sem acordo ortográfico, é que Portugal aposta em formar analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem) para que, daqui a uns poucos anos, estejam a frequentar as Novas Oportunidades. Louçã chama-lhes escravos com diploma.
José Sócrates frisou que o país tinha de fazer este investimento na reconversão do parque escolar, ao nível do secundário, porque "essas escolas eram espaços que tinham ficado para trás no processo de desenvolvimento do país".
Não creio que as escolas tenham ficado assim tão para trás. Para trás ficou o país e, como era de esperar, tudo o resto acompanhou o ritmo em que o primado da competência foi substituído pelo da subserviência.
Os grandes investimentos na educação, segundo o primeiro-ministro, significam que "o país "apostou na igualdade de oportunidades" e que por isso "vai ter sucesso no futuro”.
Igualdade de oportunidades? Onde? Em Portugal? Treta. As oportunidades no país de José Sócrates só são dadas apenas aos que, por manifesta incapacidade profissional mas sublime capacidade invertebrada, gravitam em redor das empresas e organizações ligadas ao poder.
"Mostra-me a tua escola, dir-te-ei que nível de desenvolvimento tens", vincou o sumo pontífice socialista, moldando o provérbio que hoje é mais: Mostra-me o teu cartão do PS e dir-te-ei para que empresa (pública, semi-pública ou até privada) vais trabalhar.
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