Tenho interrogado os meus pais, hoje com 84 anos um e 83 outro, sobre as razões porque sou assim, sendo que assumo que tenho alguns “defeitos” de fabrico.
Tudo começou em Angola, onde nasci em 1954. Foi lá que aprendi que devo ser o que sou e não o que os outros querem que eu seja. Tarefa fácil lá e na altura, inexequiível hoje e aqui no Burkina Faso. Perdão, Portugal.
Tem sido de facto uma tarefa complicada, tão forte é a pressão dos que nos querem acéfalos, autómatos e, como se isso não bastasse, invertebrados também.
É claro que entre as ruas do Bairro de Benfica (foi aí, por trás da Escola Primária, que a parteira Maria de Lupes me deu uma mão) da então Nova Lisboa e a cidade Alta (a terceira rua à direita a seguir ao Colégio das Madres, a caminho do aeroporto, foi a última etapa de um sonho) fui aprendendo outras coisas.
Aprendi, por exemplo, que importantes são todos aqueles (e serão certamente alguns) que nos estendem a mão se um dia tropeçarmos numa pedra. Hoje descobri que não são alguns... são menos ainda.
Mas também aprendi que mais importantes são todos aqueles (e serão certamente poucos) que tiram a pedra antes de passarmos e que dificilmente saberemos quem são.
No então Liceu Nacional General Norton de Matos (que saudades Professora Dorinda Agualusa, que saudades!) aprendi coisas que estão arquivadas no disco duro da memória e outras que estão on line. Todas me ajudam a compreender que o possível se faz sem esforço.
Infelizmente muitos de nós (já para não falar de muitos dos outros) continuam a preferir ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica.
Foi também lá longe (lá longe onde a saudade castiga mais) que aprendi que não basta ter a faca e o queijo na mão... é preciso ainda tê-los no sítio.
Voltemos ao “defeito” de fabrico. Dizem-me os meus pais que na altura, e ao contrário do que hoje é prática corrente, não era possível fazer filhos com coluna vertebral amovível...
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