Também no jornalismo, a lealdade quando é comprada não é mais do que uma traição adiada. Infelizmente, grande parte dos que se dizem jornalistas, agora transformados em produtores de textos de linha branca, esqueceram, esquecem e esquecerão regras fundamentais a troco de um prato de lentilhas.
Reconheço, contudo, que quando se é produtor de textos de linha branca não se precisa de princípios éticos, morais ou deontológicos. Apenas é necessário saber pôr em funcionamento a linha de enchimento e dizer amén ao capataz.
No entanto, porque mesmo esses autómatos querem ser chamados de jornalistas, importa dizer-lhes desde logo que quem não vive para servir o que pensa ser a verdade, não serve para viver essa mesma verdade.
Se não existimos para dar voz a quem a não tem, o que é que andamos a fazer nesta profissão? É que, para dar voz a quem já a tem, existem os propagandistas; estejam ou não na Assembleia da República, dirijam ou não os meios de comunicação social, sejam ou não donos e senhores da economia nacional.
Os jornalistas pela sua génese devem, deveriam, entender que a única forma de se valorizarem é aprenderem com quem sabe mais (e saber que nada sabemos é a melhor forma de sabermos alguma coisa). Mas isso não acontece. Muitos deles, muitos de nós, cada vez mais, pensam que a sua valorização passa por amesquinhar quem sabe mesmo mais.
Eu sei que essa estratégia é fácil, é barata, dá milhões e agrada ao capataz, mas vão com calma.
E é desses, de facto, que os ditadores, estejam ou não na Assembleia da República, dirijam ou não os meios de comunicação social, sejam ou não donos e senhores da economia nacional, gostam.
Enquanto uns perguntam o que não sabem, e só são ignorantes durante o tempo que leva a chegar a resposta, outros (receosos que se saiba que, afinal, não sabem tudo) preferem ficar ignorantes toda a vida. Ficar e fazer dos outros uma cópia.
E é destes que os ditadores, estejam ou não na Assembleia da República, dirijam ou não os meios de comunicação social, sejam ou não donos e senhores da economia nacional, gostam.
Para gáudio dos cobardes e dos que dão cobertura aos cobardes, o país ainda lhes vai dando cobertura. No entanto, um dias destes, alguém vai descobrir que esses cobardes, mascarados de heróis, para contarem até 12 têm de se descalçar.
São esses cobardes que se fartam de espalhar minas para matar os que pensam de maneira diferente. Mas, mais cedo ou mais tarde, os cobardes vão ser vítimas dos próprios engenhos explosivos que colocaram.
Eu sei, meu caro Paulo F. Silva, camarada, companheiro, que até lá vão calando as vozes que tentam dar voz a quem a não tem. Mas não as calarão todas.
Como sabes, caro Paulo, só é derrotado quem desiste de lutar. E desistir é palavra que não consta nem da tua nem da minha forma de vida.
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