A comunidade internacional vê a eleição presidencial na Guiné-Bissau como fundamental para a estabilização do país. Esquece-se, voluntariamente ou não, que o problema estrutural do país não se resolve com eleições.
Eleger um novo presidente da República só é meio caminho andado para que o escolhido seja deposto ou assassinado. Enquanto não se for à raiz do que está mal, a eleição poderá ser mais um problema para a solução do que uma solução para o problema.
Não adianta, porque a casa mete água, substituir o telhado sem cuidar de ver que o problema está nas paredes ou até mesmo nos alicerces. A comunidade internacional teima em impor modelos políticos ocidentais sem ver se, de facto, eles são aplicáveis no país.
Não adianta enviar toneladas de antibióticos para os doentes se, antes, não se criarem outras condições basilares. É que se estes medicamentos são para tomar depois das refeições, é relevanta saber se os doentes têm alguma coisa para comer.
O representante da Comissão Europeia na Guiné-Bissau, o embaixador Franco Nulli, diz que a eleição do substituto de “Nino” Vieira “é essencial que se realize nos tempos previstos”.
Do ponto de vista institucional, e segundo a visão ocidental, é imperativo que o país tenha um presidente da República e que se respeite a Constituição, também ela decalcada dos modelos europeus.
Mas alguém se preocupou em saber qual é o ponto de vista dos guineenses, dos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome?
Não. A comunidade internacional quer apenas dormir descansada depois, é claro, de algumas boas refeições. Para isso quer eleições, como se eles fossem só por si sinónimo de democracia. E é por estas e por outras similares que os votos geram ditadores e que as supostas democracias têm o poder que lhes é dado pelos canos das metralhadoras.
A Comissão Nacional de garantiu hoje que vai respeitar o prazo constitucional de 60 dias para a eleição do novo Presidente da República, na sequência do assassínio de João Bernardo “Nino” Vieira, no passado domingo, “embora o tempo seja apertado”.
Mas, pelos vistos, a pressa é a palavra de ordem. Mesmo quando se sabe, e os guineenses sabem-no por dramática experiência própria, que as cabras apressadas parem os filhos defeituosos.
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